Barão da Mata - Verdades e Diversidades

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sábado, 20 de julho de 2013

ESPECULAÇÕES SOBRE OS DESDOBRAMENTOS DAS MANIFESTAÇÕES

Voltei a assistir a debates sobre as manifestações que vêm ocorrendo nos últimos dois meses e vi analistas levantando a possibilidade de todo esse movimento desaguar na direitização do país.  No que, pelo menos por ora,  não acredito.  Não nego que possa ocorrer a médio prazo, se me propuser a ter a mesma concepção que eles me pareceram ter de direita ou de esquerda. Sem levar em conta que, após a Revolução Francesa, os parlamentares que se sentavam à direita do parlamento  eram os que apoiavam o governo, enquanto os que se postavam ao lado contrário se opunham a ele,  sem que houvesse ali uma questão de cunho doutrinário... sem levar isto em conta,  vou entender direita como a doutrina que professa o liberalismo econômico e sobrepõe os interesses do capital e os aspectos técnicos aos sociais, sem se importar com criação ou expansão da miséria que disto possa resultar.  Se analisarmos por este ângulo,  haveremos primeiro de convir que o PT não é, senão nos palanques, nenhum partido de esquerda.  Ou estaria eu dizendo uma idiotice sem medidas?  
Acredito que não, apesar dos bolsas que o governo paga, em muitíssimos dos casos para quem não produz (como bolsa aos consumidores de "crack", que precisam de tratamento em vez  de dinheiro - e dona Dilma bem sabe disto, só lhes concedendo o benefício para obter os votos dos familiares dos usuários e se possível dos próprios, num gesto perverso para os cofres públicos e, no fim das contas, para os próprios viciados), apesar disto, as práticas do seu governo não vão além do populismo demagógico, o que é uma praxe muito comum dos sistemas políticos chamados de direita.  Por exemplo vejamos: Roma dava ao povo pão de graça e espetáculos de lutas sangrentas entre gladiadores, noutras ocasiões dava cristãos e escravos a grandes felinos famintos, na política de pão e circo: era por isto um regime de esquerda? 
Getúlio Vargas não era rotulado de socialista; muito pelo contrário: perseguiu socialistas e comunistas, torturou-os e matou-os, aproximou-se do Eixo, mas por outro lado instituiu os direitos trabalhistas mais avançados que o Brasil já teve - os quais, aliás, desde mais ou menos meados dos anos 2000, os congressistas  e o governo querem suprimir, só aguardando o momento oportuno para fechar as votações.  Quando falo congressistas e governo, não se entenda que o PSDB esteja fora disto: é o PSDB, o PTB, o PMDB, o PT, o PPS, o DEM, todos envolvidos num projeto de usurpar da classe trabalhadora as férias remuneradas, o décimo-terceiro salário e vai por aí adiante, em nome da preservação da saúde financeira das empresas, que veriam reduzido o preço da produção e poderiam ostentar maiores lucros.
Bem, até aqui não conseguimos diferir o PT de nenhum partido que tenha sido tachado de direitista. Quereriam então nossos analistas definir direita como repressão e esquerda como democracia? Se é assim, agora podemos fazer uma análise. Primeiro, o que eles definem como direita vou classificar como ditatorial, tirânico, autoritário, e aí me reporto ao regime militar, referência de tudo  o que se antagoniza à democracia.  Aqui, sem antes deixar de considerar que democracia é, principalmente no Brasil, uma coisa relativa - digo principalmente porque os povos da Europa eram contrários ao apoio de seus países aos Estados Unidos na invasão do Iraque e muitos manifestantes foram espancados por este motivo; digo-o também porque as polícias estaduais, especialmente a do Rio, vêm tratando a pauladas não só os vândalos, mas os verdadeiros reivindicadores que protestam pelas ruas (sobrou até para jornalistas) - acho, sim, que pode haver um endurecimento no trato do poder público com a sociedade, mas não vejo clima político ou respaldo popular para que a presidente Dilma venha a fazê-lo ao menos agora.  Não nos esqueçamos de que é ela a chefe de um governo que juntamente com os políticos vem sendo alvo de todas as insatisfações.  Não creio também em intervenção militar: os militares estão restritos aos quartéis, e o poder econômico internacional não os quer mais no poder por aqui, porque os civis são muito mais flexíveis quanto aos interesses deste último (vide privatizações FH a preços de queima de estoque).   Se vier a acontecer um recrudescimento político, ele percorrerá a via das eleições de 2014, e, como todo início de governo é uma fase que podemos chamar, por analogia, lua-de-mel entre população e governo (já que ninguém se elege sem o apoio e a simpatia da imensa maioria), toda medida e legislação autoritária que venha a ser proposta pelo futuro governo, seja este a reedição do mandato de Dilma ou o primeiro período de Aécio Neves (ou de alguém que acaso venha a surpreender), será considerada santa e bendita.
Portanto, a minha opinião é que o que houver de ser de ser conquistado, terá de sê-lo agora.
Entretanto,  depois de aprovada a transformação de corrupção em crime hediondo (cuja pena não sabemos qual seria), derrubada a PEC 37 e a retirada do projeto tresloucado de "cura" do homossexualismo, não vejo nada senão promessas quanto ao campo social.  Não observo  movimentações da presidente em suprir a gravíssima carência que temos de hospitais públicos com pessoal e equipamentos, não ouço falar em construção de escolas, colégios e universidades, não li uma sílaba sobre política habitacional concreta e condigna; quando se fala em segurança, é para mandar policiais descerem o pau nos que protestam (ou seja, segurança para os donos do poder, obtida por meios violentos de intimidação), e Sua Excia. alardeia muito que as ruas estão exigindo uma reforma política... mas não me lembro de nenhuma manifestação haver pleiteado voto distrital ou financiamento público de campanha. Estaria a eminente presidente olhando para o lado errado, o de fora do Brasil?
Financiamento público de campanha vai gerar locupletações astronômicas, porque os políticos vão se fartar das verbas pagas com o nosso suor para as suas campanhas e não vão deixar de contar com as doações polpudas dos conglomerados financeiros cujos interesses defendem. 
Em vez de se preocupar com estes temas, nossa mandatária maior deveria buscar verdadeiramente o apoio das vozes das ruas para pressionar o Legislativo a elaborar uma legislação rígida e de real e efetiva moralização da política brasileira, legislação válida para o três poderes e totalmente intolerante a coisas como os mensalões da vida; conjunto de leis cujo cumprimento fosse incessantemente fiscalizado, porque até a mais para das criaturas sabe que lei sem fiscalização tem o efeito  de lei inexistente.
O que me parece, entretanto, é que os nossos parlamentares e mandachuvas, enquanto entre si alimentam inúmeras divergências, estão esperando estrategicamente apenas o tempo passar.  


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