Barão da Mata - Verdades e Diversidades

Barão da Mata - Verdades e Diversidades
Assista aos meus vídeos em http://www.youtube.com/user/demostenesmb

terça-feira, 24 de abril de 2012

DOS EVANGÉLICOS DENTRO E FORA DA POLÍTICA

Li hoje uma manifestação no Facebook para que não votássemos nos candidatos que têm a autodenominação de evangélicos.  As razões do manifesto me pareceram plausíveis, pois argumentam que há o intento, por parte de um número considerável de crentes, de exercer um certo domínio sobre o pensamento e as atitudes humanas.
Concordo com eles em gênero, número e grau, quando dizem que há um intento por parte dos protestantes de promover no Brasil uma ditadura afinada com as suas idéias e preceitos.  Noto que o movimento religioso vem crescendo vertiginosamente, e nada haveria nisto de negativo se primeiro muitos dos membros não quisessem atribuir unicamente a si próprios a condição de evangélicos, quando evangélico é todo aquele que lê e professa o Evangelho, papel que é exercido pelos católicos, espíritas da linha de Kardec e vários outros grupos religiosos, com a participação, ainda que muitíssimo discreta (por mais estranho que pareça), de alguns espíritas do candomblé e da umbanda.  
Não sou espírita, católico ou protestante, não tenho matiz religiosa, e isto me dá muita liberdade para dizer que os ímpetos desse pessoal precisam ser contidos, não através da solução radical de não se votar em evangélico, mas sim de observar bem, no caso de o candidato ser protestante, se seria este merecedor ou não de voto, sobretudo porque, pelas informações que venho recebendo, a chamada bancada de Deus do Congresso está muito longe de ser um poço de virtudes.  
Em segunda e mais importante análise, é preciso que os chamados evangélicos, quer na política ou no dia-a-dia, respeitem que nos é assegurado pela Constituição o direito à mais absoluta liberdade religiosa, que inclui até mesmo o direito de não crer em nada.  Seria muito ridículo se o Brasil se tornasse um Estado teocrátrico protestante.  Muito "bonito" seria os cristãos, na Antiguidade perseguidos, agora passarem a perseguidores. 

2012

segunda-feira, 23 de abril de 2012

BREVES SUGESTÕES PARA QUEM VAI SE SUBMETER A EXAME DE PRÓSTATA PELA PRIMEIRA VEZ


Eu sei que esse negócio de fazer exame de próstata é incômodo.  Porém não mais do que incômodo.  Se você tem alguma outra objeção, eu peço perdão, porque não sabia que  sua masculinidade era tão frágil, que um simples exame feito por um profissional de saúde lhe traria à flor da pele tão inconfessos instintos.
Nascido em 1958, já fui examinado inúmeras vezes, mas falar de tais investigações médicas já me valeu ouvir as maiores asneiras do mundo.  Já vieram uma vez defender a "inviolabilidade" do reto masculino.  Brilhante raciocínio! Perdi um irmão  a partir de um câncer intestinal. Já fiz  e tenho de fazer colonoscopia de vez em quando. Na visão do defensor da imaculabilidade da região proctológica o portador de hemorroida tem de sofrer calado,   o de câncer, pior, deixar que a coisa vire metástase de uma vez por todas, mas preservar acima de tudo a "honra".  Uma vez um homem de setenta anos e o cérebro do tamanho de um grão de arroz  levantou as mãos pro céu, suplicando:
- Deus que me livre de um negócio desses! Já disse à minha mulher: "Se eu parar num hospital e ficar desacordado, por favor(!), me deixa morrer, mas não deixa fazer isso comigo.  Deus me livre... perder a virgindade na mão de um outro homem..."
Muito bem feito pra mim, pra aprender a ficar calado ao invés de falar com produtores de imbecilidades em larga escala.  Nunca tive nenhum gosto sexual que no passado fosse considerado exótico e hoje seja quase uma obrigatoriedade para quem não queira ser chamado de reprimido ou anacrônico.  Em outras palavras, não sou homossexual, ou melhor, homoafetivo - que é a mesma coisa mas a terminologia que querem que a gente use - nem nunca tive nenhuma experiência neste campo, nem tampouco tenho qualquer coisa contra a definição sexual de quem quer que seja.
Mas posso, com minha experiência, dar alguns conselhos àqueles que se submetam pela primeira vez a um exame clínico de próstata.
Primeiro, se você se sente acometido de alguma inibição ou insegurança, procure parecer simpático e amigo, e leve um presente para o médico: pode ser uma gravata, um perfume ou uma garrafa de vinho (de preferência acompanhado de um cartão).  Ele ficará agradecido, risonho, retribuirá a simpatia, e aí você vai ficar mais à vontade.
Depois, o urologista (se você não quiser ser examinado  pelo otorrino que mais lhe agrade) pedirá que tire as calças.  Neste momento, sei que o  amigo aí vai ficar inibido, atarantado, e eu sugiro que, para relaxar, pergunte ao especialista se não há um rádio para tocar antes (e durante) uma música suave.
Já de calças abaixo dos joelhos, suado e trêmulo, quando o profissional de saúde mandar-lhe ficar na humilhante posição, seja brando com ele e se explique:
- Doutor... sem querer atingir a sua autoestima... eu gostaria de dizer que... eu gostaria de dizer que...
- Diga, meu amigo!
- É que, doutor... é a minha primeira vez.
Aí eu lhe garanto: ele será compreensivo, calmo, cuidadoso, paciente, e as coisas fluirão naturalmente.
Eu, de minha parte, sempre fui extremamente tranquilo em relação a essas coisas e nunca tive medo ou inibição, nem muito menos senti em xeque a minha masculinidade.  Mas com você pode ser diferente. Por isto sugiro que, após sair do consultório, evite ficar pensando no médico ou se sentir envolvido pelo fato de este haver sido tão ameno, porque terá agido unicamente com profissionalismo, sem outro intento que o de fazer o seu trabalho da melhor maneira possível.  Ou seja, não adianta depois ficar se queixando:
- Insensível... além de não ter demonstrado a menor emoção, nem sequer me convidou pra jantar...
Ah! E mais!  Não adianta ficar ligando pra ele:
- Eu não tô bem hoje, tô sentindo um vazio, parece que falta alguma coisa, e precisava me abrir com alguém, uma pessoa em quem pudesse confiar... Aí então me lembrei de você.  Você me pode ouvir um tempinho? Sinto que tô precisando de colo...
Muito provavelmente ele será ríspido:
- Meu amigo, eu preciso trabalhar. Por favor, resolva seus problemas existenciais com o seu terapeuta.
Agora, se você  estiver seguro de que é plenamente masculino, submeter-se-á ao exame e, finda a consulta, apertará a mão do médico, irá embora e só voltará a procurá-lo um ano depois.


2012
Barão da Mata




sexta-feira, 20 de abril de 2012

A SERPENTE DO PARAÍSO FOI O PRIMEIRO DE TODOS OS ANARQUISTAS


Já ordenara o Senhor Deus:
"De toda  árvore do jardim comerás livremente,
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás."  - Gênesis 2:15-17.

E não é que a serpente, anárquica e rebelde, ficou soprando ao ouvido da Eva?
- Qual é, Eva? Não tô nem te entendendo!  Vai-me dizer que vai entrar numa de bancar a servil e  obedecer aos caprichos do Todo Poderoso? Pô, Eva, não entra nessa!  Vai agora ceder a pressões de cima, capitular aos desígnios do poder?  É preciso  desobedecer, gata(!), e mostrar que você e o Adão são autossuficientes e senhores dos seus narizes, e não aceitam essa postura autoritária e antidemocrática, essa coisa assim ditada de cima pra baixo e sem nenhum debate político.  Desobediência já!
A mulher olhou para Adão, viu-o vacilante,  pegou na árvore o fruto e deu-se a morder a última:
- É isso aí, serpente!  Chega de totalitarismo!  O Senhor tem toda a força do Universo, e nós, cidadãos capazes de governar a nós próprios, não podemos acatar ordens ou determinações de nenhum gestor, porque simplesmente repudiamos e renegamos a figura da autoridade e reivindicamos o nosso legítimo direito à autodeterminação.
- Apoiada! - bradou Adão brandindo os braços.
Depois deu o sururu que você sabe: após comerem o fruto do conhecimento, foram severamente repreendidos e punidos, expulsos do paraíso, tiveram senso de malícia erótica e dois filhos, o trauma da morte do filho Abel pelo próprio irmão Caim, e nós, descendentes do primeiro casal , herdamos os seus débitos e  até hoje sofremos um sem-fim de percalços como forma de pagamento da dívida.
Dizem que os dois cônjuges, apesar da drástica punição, ainda muito tempo depois viviam a bater nos próprios peitos, orgulhosos de sua insubmissão:
-Tomamos uma porrada feia, comemos o pão que o diabo amassou, mas que ficou registrada na história a nossa rebeldia e coragem, ficou! - num discurso parecido com o dos líderes sindicais de hoje, que levam a categoria a que pertencem à greve e à derrota, com desconto de dias de paralisação, perda de emprego, rebaixamento de cargo, inúmeras humilhações e, acovardados,declaram, fugindo à luta  e tentando consolar os liderados:
- Ficamos sem aumento e houve um monte de demissões, não importa se ganhamos ou perdemos, e sim que ficou clara a nossa insatisfação e marcado o nosso protesto pela situação atual.
A serpente, sim, mais autêntica, inconformada, cônscia dos prejuízos sofridos, pragueja:
- Ah, que rábia! Por eso siempre digo: hay gobierno?  Soy contra!

2012




sexta-feira, 6 de abril de 2012

AUTODEFESA DO SENADOR DEMÓSTENES COMO NA ANTIGA GRÉCIA

  Pelo que a grande imprensa diz (ou no mínimo, no mínimo insinua)a gente deduz que a marcante analogia entre o Demóstenes de Atenas e o de Brasília é que o grego tornou-se o maior orador da Antiga Grécia a partir de exercícios em que enchia a boca de pedras de cachoeira para vencer a gagueira e apurar a oratória, enquanto o " paladino da ética brasileira" mostra uma estreita ligação com o Carlinhos Cachoeira, ou seja: ambos têm em comum o fato de obterem, cada um a seu modo, alguma vantagem de algum tipo de cachoeira, seja cachoeira um manancial ou um homem com um sobrenome de acidente geográfico.  Quando falamos cachoeira, aliás, é preciso lembrar que ambos são mananciais importantes, um de água e outro de dinheiro.
Imagine o nosso defensor da integridade moral fazendo a própria defesa no parlamento, nos moldes da Grécia Antiga:
- Nobres compatriotas, amadas concidadãos!... Se a mim acusais de corrupção pelo simples fato  ser eu afeito a cachoeira e de obter o que há de melhor de cachoeira, a vós indago, ó nobres irmãos e arrimos desta pátria: o que há de mau nisto? 
É bem verdade que, pela tentativa de induzir os julgadores a erro,  deste modo estaria mais para Sófocles, fundador da escola dos sofistas, do que para Demóstenes.  Mas já que divagamos, poderíamos ir à maiêutica de Sócrates, condenado a beber a cicuta sob a acusação de pregar contra os deuses oficiais e corromper a juventude.  Livrar-se-ia da pena caso admitisse a culpa e pedisse perdão, preferiu porém argumentar que não impugnara os deuses e ao mesmo tempo aclareara as idéias dos jovens sobre inúmeros assuntos, que portanto, para que fosse feita justiça, deveria receber do erário uma pensão vitalícia pelos serviços prestados ao Estado.  Diante da inflexibilidade do tribunal, optou por receber a pena capital.  Tido pelos historiadores da antiguidade como o mais sábio dos homens, sua escola (maiêutica) consistia em confundir os interlocutores, que sempre ficavam sem meios de refutar as suas argumentações.
No caso do senador brasileiro, como ele faria a autodefesa aplicando as lições de Sócrates?
- Ilustres julgadores, não tendes vós conhecimento do que é uma cachoeira?  Não usufruístes jamais o que uma cachoeira vos pode  proporcionar?  Respondei, nobres homens de minha pátria, o quão aprazível e deleitante é receber tudo de bom que uma cachoeira nos pode oferecer.  Cachoeira, fonte de vida, esplendor, benesses, que nos refresca e faz felizes... assim sendo, nobres concidadãos(!), dizei-me de uma vez por todas! Quem de vós sabe me dizer as diferenças básicas entre uma cachoeira, uma cascata e uma catarata?! E de que catarata vos falo?! Oftálmica ou geográfica?!  Teriam cura ambas as cataratas?  Se não me sabeis responder com clara precisão, então me dizeis: que mal, então, senhores, há numa cachoeira?
"Por haver esclarecido esta sociedade sobre a importância e magníficência das cachoeiras, proponho que designeis a mim uma pensão vitalícia pelos inegavelmente relevantes serviços prestados a este país.  Caso, entretanto, Vossas Excelências não concordeis com minha proposta, preferirei a condenação a beber não a cicuta, mas um copo dessas infames e mortais cervejas baixa-renda que fabricam por aqui.
Deixando de lado o humor, a grande verdade é que os políticos daqui são de um caradurismo acintoso e não têm o menor respeito pela sociedade que lhes dá aqueles empregos sem similares.

2011