Barão da Mata - Verdades e Diversidades

Barão da Mata - Verdades e Diversidades
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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

RÁDIO BESTEIROL (II)

"Oi, amigos da rádios Besteirol, sintonizada em q-m-e-r-d-a,3, vinte e quatro horas por dia no ar!  Aqui quem fala é o amigo de vocês, Jarba Boseira, com uma programação de músicas e entretenimento pra você(!), você(!), fiel ouvinte de todos os dias e todas as horas... :Aqui estamos, juntos, sob o patrocínio do óleo de peroba facial Planalto, o óleo que mantém viçosos os rostos dos atores Dilma e do Lula e é o preferido dos políticos do Brasil.
Tempo de férias, amigo ouvinte. Faça sua viagem ao Rio de Janeiro pela Mazela Turismo!  Visite as cracolândias típicas da cidade e do Estado: são espetáculos pra você nunca(!), nunca(!), nunca esquecer! Passeie também pelas nossas estações de águas podres: a Baía de Guanabara, os rios  Maracanã, Meriti, Faria Timbó e outros mais que  vão matar o Tietê de inveja!  Percorra também  os subúrbios e ria a valer em ver os motoristas de ônibus não parando nos pontos e ainda  atropelando os pedestres, com impunidade garantida ou seu dinheiro de volta. Mazela Turismo(!), o seu bonde das emoções!
Agora, querido amigo da Besteirol, eu declamo para você uma letra de pagode que achei de uma profundidade incrível!  Feche os olhos,amigo, e mergulhe na poesia.  É o pagode 'Tu Ralaste' do grupo  'Roxo Sem Arrocho!', e a letra é assim:

'Meu amor,
 Por que tu me abandonaste?
Sem te ver, 
.Tô broxando feito um traste.
Amor meu,
Sem te ter,
Tô broxando feito um traste.

Meu amor,
Nunca mais tive teu corpo,
Vou seguindo,
Engordando feito um porco.
Sem te ter,
Tô broxando feito um traste.

Meu amor,
De alegria minha fonte,
Sem te ver,
Vivo embaixo duma ponte.

Meu amor,
Nossas noites tão bacanas,
Minha dor
Foi tu seres tão sacana,
Me traindo
Num bar de Copacabana.

Teu tesão
Era coisa que eu gostava,
De soltar-te meu dinheiro,
Mas, "mozão"
Tu também não precisavas
De soltar pr'um time inteiro
De terceira divisão.

Mas amor,
Tu pra mim és mais que tudo,
Pra te ter
'Costumei a ser chifrudo.

Meu amor, 
Por que tu me abandonaste?
Sem te ter,
Tô broxando feito um traste.
Sem te ver,
Tô broxando feito um traste.'

"Lindo, não é mesmo, ouvinte da rádio Besteirol(?!), a sua companheira de todas as horas, todos os minutos, todos segundos...  Agora vamos responder à pequisa do dia.  A pegunta é a seguinte: para você o ex-presidente Polvo sabia ou não sabia de tudo?  Se sabia, responda: por que calou?  Opção A: faturou em cima? B: não queria atrapalhar os companheiros? C: gosta mesmo é de uma sacanagem?  Agora, se você responder "não", que o ex-presidente não sabia, responda também por quê. A: é cego?  B: é burro? C: passava o tempo todo comendo churrasco  com pinga?
Assista esta noite, na 'TV Ovo' ao filmaço(!), filmaço(!)  'O Silêncio dos Indecentes',  com Saulo Yamamoto, Ruiz Fula Madressilva, Melrose Vergonha e grande elenco.  Intriga, mentira, morte, ação, inação, roubo... 'O Silêncio dos Indecentes', às onze da noite, na 'Rede Ovo'."
"Agora vamos ouvir a música maravilhosa do 'Roxo Sem Arrocho'"
E toca a música sofrível de letra mais sofrível ainda.  Depois volta o radialista:
"É isso aí, minha gente boa! Cultura é aqui na rádio Besteirol!  E vamos aos destaques do noticiário de hoje: 'presidenta' Vilma diz que seu governo é tão transparente, que deixa os homens excitados. Ex-ministro Tom Zé Perseu pede ao papa a canonização do ex-presidente Polvo. Governador acha que cracolândias podem incrementar turismo. Capítulo especial da novela das vinte e uma,  'Salve Zé', deve entrar pelo brioco adentro.  Técnico afirma que seleção ganhará se não perder ou empatar. Pesquisa indica que mulheres tossem mais do que os homens.  Governo investirá mais em educação: pagará curso de etiqueta à sua chefe. Giuliana Faz rompe romance com Maurílio Fenício. Vandré Charques deixa Évora Seco toda molhadinha. Nesgo concorda que má qualidade do programa de que participa causa pânico. É isso aí, galera boa! A rádio Besteirol é diversão, entretenimento e notícia vinte e quatro horas!"

Barão da Mata












AS PROCISSÕES DO DIABO

A coisa no Brasil tá mesmo preta.  O Gilberto Carvalho, secretário geral da Presidência - aquele mesmo que foi submetido, junto à família de Celso Daniel, a acareação na CPI acerca do assassinato do prefeito -, disse que o PT teria um 2013 muito difícil e seria preciso botar a militância nas ruas, para resgatar ou preservar a imagem dos companheiros tão injustiçados, coitados(!), e tão perseguidos  por aqueles que são contrários aos avanços sociais implementados pelos governos do partido  (leia-se "esmolas do bolsa-família") e às conquistas do próprio povo brasileiro.   Fico imaginando as passeatas que vão ser realizadas, a participação de artistas (vi um  ator  da Globo numa foto de jornal, em apoio ao José Dirceu, o que, aliás pela própria história das organizações, não é muito para se estranhar), as palavras de  ordem, etc... Serão como procissões bizarras e de valores invertidos.  Já vi muitas procissões, mas estas eram em louvores a santos católicos, cuja existência e santidade não me cabe no momento questionar, que entretanto eram feitas em prol de santos, não de salafrários de primeira grandeza, supostamente pretensos ou ainda realmente pretensos assassinos, ou quem sabe assassinos de verdade, sem contar os comprovadamente envolvidos em falcatruas de envergonhar qualquer vigarista dialético.  Em outras palavras, a política nacional vai inaugurar um verdadeiro ciclo de procissões em exaltação ao diabo.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

GONZAGA DE PAI PARA FILHO, QUE OBRA PRIMA!

Vi o filme "GONZAGA DE PAI PARA FILHO" e fiquei profundamente emocionado.    A produção é riquíssima em cenários, em realismo, na descrição do tempo vivido pelo Gonzagão, no sotaque dos personagens, na abordagem à linguagem e à mentalidade dos homens daquela época. Foi perfeito. 
Filho de nordestino, conhecedor do pensamento e idéias daquele povo, pude notar a precisão com que o diretor focalizou aquelas inquestionáveis verdades.  Além do mais, tenho boa noção da biografia do Gonzaguinha e sei quanto ódio aquele homem alimentou dentro de si enquanto compunha as mais lindas músicas e letras de amor.  Grande paradoxo, não é?  Mas é o real, o mais absoluto real.  
Desassistido pelo pai, a não ser no aspecto financeiro, Luiz Gonzaga Jr. envolveu-se até com o crime, experimentando percalços como os maus tratos da madrasta e a tuberculose, caindo na vida até brilhar na MPB e sendo desta um dos maiores compositores da nossa gente.  E isto mostra a prevalência do seu talento singular, ímpar, impressionante. 
Gonzaguinha não olhava de frente, mas de baixo para cima e atravessado, a gente lia a revolta na maneira que este tinha de olhar, e aquele extremamente talentoso compositor canalizou toda a sua revolta contra a situação política do tempo em que viveu.  
Os talentosos morrem logo, e Gonzaguinha, se não me engano,  morreu aos quarenta e sete anos, no auge da criatividade.  Os medíocres, os canalhas  e os cruéis não morrem nunca, porque o Diabo não os aceita no Inferno, e Deus alega que o Céu não é o lugar deles.  Mas Gonzaguinha morreu logo porque a humanidade, torpe, não merecia ( e não merece ainda hoje ) tê-lo em seu meio.
Mas, voltando ao filme propriamente dito, é de uma poesia inenarrável, de uma beleza envolvente e de uma poesia inefável.  Os atores brilharam - meu Deus!, vi o irreverente Gonzaguinha no ator que o interpretou (parecia um espírito incorporando num médium).  Houve cenas fortíssimas, e, no momento em que o filho desanca o pai, tudo me pareceu extremamente real.  Vivam os grandes atores!  Passo a vida exaltando os exímios cantores, mas os expressivos atores também são simplesmente mágicos.
Senti saudade de ver o Gonzaga velho tocando seu acordeon e espalhando as harmonias mais belas, do filho raivosamente irreverente (sobretudo porque no Brasil o sistema precisa e sempre precisará ser atacado pelos raivosos irreverentes) e uma certa tristeza por notar que a MPB, hoje em franca decadência, sem os dois, ficou um tanto quanto mutilada.
Prometi a mim mesmo que não mais seria saudosista, mas vendo aquele filme, sinceramente, não dá pra ser diferente (ou indiferente).
Vi muitas produções brasileiras sofríveis, mas o filme que vi me pareceu estar acima do bem e do mal e me orgulhou pelo fato de o Brasil ainda contar com cineastas responsáveis e que primam pela boa qualidade de suas obras.

2012


domingo, 16 de dezembro de 2012

O "THE VOICE" E OS GRANDES ARTISTAS

Vi hoje a final do "The Voice Brazil" e fiquei feliz e comovido: venceu a Elen Oléria.  Como me pareceu justo!
Entre as finalistas achei-a, em minha modestíssima opinião de leigo, a que mais brilhou, sem sombra de dúvida a mais brilhante.
Não que não tenha passado por lá gente do mesmo quilate, valor artístico do mesmo peso, como Ludmila Anjos, Mira Callado, Alma Thomas, Marquinho Sócio e outros que não chegaram ao fim da competição, mas hoje, entre as quatro impressionantes e fascinantes finalistas, Elen me pareceu a mais desenvolta, a de voz mais plena de recursos.  O que me desalenta é que talento artístico não deveria ser medido por meio de comparação, submetido a disputas do nível fulano é melhor do que beltrano., cicrano é o primeiro  e os demais estão em situação inferior. Disputa é para jogo de futebol, basquete, vôlei, sinuca, etc..., nunca para artes.  Não digo que não se jogue futebol ou não se pratique qualquer outro esporte com arte, mas embates são para atletas e jogadores, não para cantores, músicos, compositores, literatos, poetas, cronistas, pintores, escultores... Desculpe-me, mas não acho muito válido.  Posso estar na mais absurda contramão da opinião geral, mas para mim não são muito adequadas ao bom senso essas contendas artísticas. Mas, no caso do "The Voice", como no de muitos outros programas do gênero,  não afetou o brilho da produção da Globo.  Vi desfilar inúmeros talentos esplendorosos por ali, num embevecimento pejado de espanto e admiração.  Toda aquela gente resplandecente merece despontar  no meio da música, porque são cantores de enorme expressão e envergadura.  Fiquei contente e emocionado de verdade, sobretudo porque, aficionado por MPB, vejo surgir uma  uma profusão de prodígios que vão fazer ainda mais rica a música e a cultura nacional.
O Brasil é, digo com toda a franqueza e sem demagogia alguma, um magnífico celeiro de artistas.

A ESTABILIDADE ACIMA DE TUDO: NOSSA MÃE!


Gostaria de sugerir às autoridades incumbidas de cuidar da segurança pública que não enviassem mais policiais para incursões em favelas, agora convertidas verbalmente em comunidades, porque esta última expressão não é pejorativa e gera um efeito psicológico importante, por fazer que o morador não mais se sinta habitante de um gueto nem com razões para cobrar empreendimentos urbanísticos dos governos... Bem, quero sugerir que  a polícia não faça diligências em tais lugares, e você sabe por quê?   Sabe por quê? 
É simples: se no escândalo do mensalão muita gente aparentemente boa achou que não se devia investigar de um modo efetivo  o nosso "grandioso" Lula, porque desestabilizaria o governo,  e hoje homens que deveriam apurar as delações feitas pelo Marcos Valério não lhe dão ouvidos, segundo avaliação de alguns, pelos mesmos motivos (agora em relação ao governo Dilma),  é bom também que a polícia não suba mais as favelas, para não desestabilizar as chamadas comunidades.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

PUXA! NINGUÉM GOSTA DO LULA!


O ministro do Supremo, Gilmar Mendes,  acusa Lula de tê-lo procurado para pedir o julgamento do mensalão após as últimas eleições municipais; Lula se defende dizendo que é preciso estar alerta por haver, na época,  ainda quem não gostasse dele: Gilmar Mendes  não gosta do Lula.
No período de julgamento do mensalão, o advogado de Roberto Jefferson, acusa Lula de ser o líder do mensalão: o advogado do Roberto Jefferson não gosta do Lula.
A  operação Porto Seguro, da Polícia Federal,  conclui que haja envolvimento muito estreito entre Lula e Rose Nóvoa, ex-chefe do gabinete da presidente Dilma em São Paulo, que teria (Rose)  traficado  influência feito o diabo e  sido indicada  pelo ex-mandatário para o hoje perdido cargo: a Polícia Federal não gosta do Lula.
O publicitário Marcos Valério acusa Lula de ter sido o líder e avalista do mensalão, tido as despesas pessoais pagas por ele, o publicitário,  e  o PT de financiar a sua defesa no processo 470:  Marcos Valério não gosta do Lula.
Puxa vida! Ninguém gosta do Lula!  como é que pode um cara ser presidente por dois mandatos sem ninguém gostar dele?
Fica tristinho, não,  Lulinha! Sócrates era sábio e foi condenado a beber a cicuta,  Jesus era santo e foi crucificado,   Mahatma Gandhi também foi um santo líder e morreu baleado, Martin Luther King foi um bondoso pastor e líder negro e teve o mesmo fim de Gandhi... É assim mesmo, querido: os heróis e os bondosos demais são sempre incompreendidos.   Mas não dê a ninguém o gostinho de matá-lo:  faça-o você mesmo.  E ainda terá na presidente a sua mais ilustre carpideira.

Barão da Mata

domingo, 9 de dezembro de 2012

NOSSOS COMERCIAIS (II)

Meu bom servo do Senhor, não fique indeciso, aja com juízo: deposite na conta do pastor e abra caminho pro Paraíso.


Inscreva-se já pro Brigue Bode e veja muita bunda, muito peito e outras coisas mais.  Tome logo a decisão!
Ingresse no Brigue Bode e viva cheio de tesão!  Lá é tudo como você gosta: muito fálico e nada encefálico!
É isso aí, meu garanhão! Só no Brigue Bode você trepa como um leão!


Não se esqueça, meu caro eleitor das classes menos favorecidas:  se você precisa viver de ilusão, na hora da eleição, o PT é a opção.  Só o PT tem Lula, Dirceu, Genoíno e mensalão.  Vote no PT e viva muita emoção: veja tudo de arrepiar na televisão!


Não perca, de segunda a sábado, no Jornal da Tevê, as notícias do Brasil mais imundo.


Assista ao "Jornal Multinacional", com Vilhem Bonde e Antipática Filardes, e acompanhe as notícias mais bem maquiadas do mundo.  O dia-a-dia de Vilma Sargentão, os bastidores da nossa "valorosa" política, os fatos com aquele toque de rímel e de blush que faz o poder bonito de dar gosto de ver.

Se você quer chorar pra valer  ou  morrer de raiva e não rir de jeito nenhum, assista aos domingos à "Turma do Titi".


Não fique triste aí no seu canto: role em gargalhadas assistindo, de segunda a terça-feira, "Políticos Brasileiros".  Acabe com o mau-humor, solte suas risadas em ver Dilma Cassete na sua mais engraçada e bizarra tentativa de imitação da diabólica ex-primeira-ministra inglesa Margareth Tatcher.  Não perca: "Políticos Brasileiros", o único real terror engraçado da televisão.  
Por que de segunda a terça? Ué? E você já viu político trabalhar mais  que dois dias?

sábado, 8 de dezembro de 2012

BREVE DEFESA DE RUIZ FALÁCIO PULA MADRESSILVA

Vá confultei um aftrólogo (efes cara que entende de aftrolovia, horófcopo), e ele dife que eu tô vivendo uma fave de inferno aftral, maf que logo pafa.  Primeiro veio o miniftro do Tribunal Grandão e me acuvou de ter pedido pra  vulgar o semanalão depois das eleifão.   Aí eu pedi ao povo pra tomar cuidado, porque, apevar de eu fer melhor que o Gandhi, e fe o Gandhi, fendo o home que era, foi afafinado,  imavine o que fariam com um home ainda mais fanto como eu...  Pois é, eu dife que  ainda eviste quem não gofte de mim e fique favendo fofoca.  Depois veio o advogado do Norberto Vérson e dife que eu era o líder do semanalão. Mais calúnia, viu, meu povo?  Agora vem mais vente mal-intenfionada e fica me ligando a efa mofa que chefiava o gabinete da Nilma...   Aliás, do meu ponto de vifta afo até que efa mofa, a Melrose, é uma pefoa de conduta ilibada.  Mas vá lá que não afem! Tudo bem, mas não me liguem a ela!
Fó indico pefoas da maior integridade e probidade, e além difo eu próprio fou um home de carate firme e de muita honra e integridade moral.  Fe alguém rir eu dou um foco na cara!

2012

VEJA POR QUE OS SENHORES DO CRIME ORGANIZADO NÃO SÃO MARGINAIS


VEJA POR QUE OS SENHORES DO CRIME ORGANIZADO NÃO SÃO MARGINAIS

Acessando o "Dicionário On Line de Sociologia", encontrei as seguintes definições para marginal:

"MARGINALIDADE. Tem diversas acepções. Para Stonequist, é a personalidade marginal: o homem marginal é aquele que, através da migração, educação, casamento ou alguma outra influencia, abandona um grupo social ou cultural sem realizar um ajustamento satisfatório em outro e encontra-se na margem de ambos sem pertencer a nenhum. Segundo os estudos da DESAL, ocorre a marginalidade cultural: estado em que uma categoria (veja CATEGORIAS) social se encontra sob a influência de outra categoria, mas devido a barreiras culturais se acha impedida de participar plena e legitimamente do grupo que a influencia (sociedade moderna e tradicional, maioria e minoria étnica etc.). Lewis considera que a marginalidade é sinónimo de cultura da pobreza: composta por um conjunto de normas, valores, conhecimentos, crenças e tecnologia que é organizado e utilizado por indivíduos de uma sociedade, a fim de permitir a sua adaptação ao meio em que vivem; características principais: ausência de participação efectiva e integração nas principais instituições; grande densidade populacional, condições precárias de habitação e um mínimo de organização; ausência da infância, iniciação precoce no sexo, abandono do lar, famílias centradas na mãe; sentimentos de desespero e de dependência. A CEPAL conceituou marginalidade ecológica: más condições habitacionais aliadas às más condições sanitárias, escassez de serviços urbanos, baixo nível de instrução, precários padrões alimentares, baixa qualificação profissional e instabilidade ocupacional. De acordo com Rosemblüth, existe a marginalidade política: grupos marginais são aqueles grupos de pessoas que tem certas limitações aos seus direitos reais de cidadania e pelas quais não podem participar de forma estável no processo económico, nem têm a possibilidade de alcançar mobilidade vertical ascendente. Finalmente, Quijano considera marginalidade como falta de integração: é um modo não básico de pertencer e de participar na estrutura geral da sociedade. Marginalidade é um problema inerente à estrutura de qualquer sociedade e varia em cada momento histórico."

Fiz a consulta porque há muito venho questionando que os nossos "ilustres" traficantes e membros do crime organizado - quer o tráfico de drogas, de crianças, de mulheres, de animais, de madeiras, de mão-de-obra escrava ou qualquer outro tipo de comércio ilegal ou de crime, como as formações milicianas ou organizações ligadas à venda de assassinatos e  outra atividades facinorosas - sejam marginais conforme a definição de José Jobson de A.Arruda em "História Antiga e Medieval", que assim classificava todas as camadas que se encontrassem fora da economia de mercado, como os desempregados e os que viviam à custa de biscates, os mendigos, os indigentes, etc...
Se você fizer uma análise acurada, irá verificar que os homens que vivem da atuação criminosa que se organiza estão longe, muitíssimo longe de estarem inseridos na definição dada por Arruda a quem esteja à margem da sociedade.  Muito pelo contrário, são homens perfeitamente integrados a esta, antes de tudo porque são pessoas por ela acolhidas até com um certo apreço.  Você acha que é mentira?  Então me responda: nas chamadas comunidades (eufemismo para qualificar as favelas - porque é melhor adotar um termo  suave do que resolver um problema social e urbanístico) e nos seus arredores, quantas pessoas agradam, protegem e até ajudam os traficantes?  Já ouvi muitas alusões a estes feitas por  moradores de cercanias de favelas em tom carregado de simpatia, como já conheci habitante  de morro que me relataram que até frequentavam as festas patrocinadas pelos meliantes, confessando até lhes ter admiração.
Falei na aceitação aos quadrilheiros  sem mencionar que alguns de tais residentes das citadas localidades eram compradores frequentes e contumazes dos produtos ofertados pelos bandidos.  E todo o mundo sabe perfeitamente que não só quem habita nos lugares que mencionei consome drogas: o número de consumidores de crack, cocaína, maconha e outras coisas do gênero é simplesmente fabuloso, incontável, incalculável! E é justamente isto que faz os traficantes totalmente fora da condição de marginais.  Contam com um mercado consumidor vastíssimo!  Seus artigos estão dentro das leis do mercado legal, como a de procura e oferta e todas as outras inerentes ao comércio e à economia.  Dão-se ao luxo de até gerar empregos, sem carteira assinada e dentro da criminalidade, mas empregos e muitos empregos, sim!
Já vi muita gente tida como boa tentando dar aos bandidos uma feição de verdadeiros guerrilheiros avessos ao sistema e ao capitalismo, mas a grande verdade é que a bandidagem sempre foi perfeitamente afinada com o sistema social e econômico cruel que sempre dominou nossas vidas.
Não vejo o que os coloque à margem da sociedade senão as estatísticas oficiais.  Mas que eles fazem parte  do processo econômico, fazem, e isto  é muito triste e degradante.  E a razão disto é o apoio que encontram em inúmeros homens investidos de autoridade oficial que se deixam corromper, na incomensurável demanda de seus artigos  e na preguiça e descaso de uma parcela inestimável dos encarregados da segurança pública, quer no Brasil como mesmo em vários outros países.  Do contrário, nenhuma atividade criminosa sobreviveria, seja aqui no república dos tupiniquins ou em qualquer outra parte do mundo.


Barão da Mata

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

AS CRACOLÂNDIAS E OS POLÍTICOS

Até quando as autoridades, ao invés de tomarem uma atitude efetiva, vão continuar quase tentando varrer a mazela das cracolândias para debaixo do tapete?  Até sempre? Ou será que, políticos que são, vão tentar, como é de praxe, se beneficiar da situação?  Será que vão transformar as cracolândias em atrações turísticas, para que o visitante estrangeiro veja de perto o que é para ele tão insólito, exótico,  bizarro, infernal, podendo testemunhar o que é trágico,  mas tão passível de lhe atrair a curiosidade  (seja esta mórbida ou não) ?
Desmantelar uma cracolândia hoje e deixar que outra se forme, só desmontando a segunda após  muito apelo da imprensa, é ou não é tentar varrer a sujeira para debaixo do tapete? O poder público, demorando a tomar medidas, dá a impressão de que quer evitar  lidar com o problema, só fazendo-o quando a mídia expõe exaustivamente este último - como se os gestores fingissem que a questão não existisse e a quisessem esconder das pessoas.
Atitudes efetivas de combate às cracolândias são as mesmas que devem ser adotadas na luta contra o tráfico de drogas, com a prisão dos traficantes e a internação dos dependentes químicos, sem que a estes seja dada a faculdade da voluntariedade.  O empreendimento exige gastos e investimentos em mão-de-obra policial, em armamentos e também em saúde, além da disposição ao trabalho por parte dos políticos encarregados da segurança, da saúde e da chefia dos governos estaduais e federal.  E é aí exatamente onde se encontra o grande entrave, porque não é do feitio dos políticos gastar dinheiro para empreendimentos de real interesse público nem trabalhar senão para a obtenção de um futuro mandato.

2012

VEJA BEM QUEM INDICA

O governo Dilma não quer que a ex-chefe do gabinete da presidente, indicada pelo ex-presidente Lula (que indicou tantos outros assessores que se meteram em situações parecidas), se pronuncie ao Congresso acerca das acusações de tráfico de influência e corrupção.   Não entendo: quem não deve teme?  Teria minha mamãe me ensinado errado?  Bem, pelo sim, pelo não, aconselho você a, caso precise de algum profissional -seja da área que for - que não aceite indicações do Lula.     

2012       
Fico impressionado com o número de pessoas que hoje se voltam para a religião e para Jesus. Agora só falta a bondade.

2012

sábado, 13 de outubro de 2012

DO VALOR DO QUE SE PERDE

Costumam dizer que só damos valor às coisas e pessoas quando as perdemos, mas em alguns casos o sentimento de perda é que nos embota os olhos, e descobrimos mais tarde que elas não tinham mesmo valor nenhum.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

POR QUE O BRASIL CHORA KENNEDY?


É difícil entender como   John Kennedy, apesar de americano, transformou-se aqui no Brasil numa espécie de mártir brasileiro e herói nacional.  Não sei como tantos e tantos brasileiros choram e lamentam a morte do presidente americano, num sentimento parecido com o de criança que de repente se vê órfã de pai. Isto só pode ser atribuído à ignorância, total desconhecimento do que  representou o mandatário americano para o nosso país.
O extinto “Jornal do Brasil”, nos anos oitenta, publicou uma matéria intitulada “A herança de Kennedy para o Brasil”, em que fala da troca de memorandos entre este e a Cia., envolvendo levantamento de dados sobre João Goulart, presidente do Brasil entre 1962 e 1964, e suas inclinações ideológicas, com vistas a alijá-lo do poder.  Tal conspiração contava com a participação fundamental de Lincoln Gordon, embaixador dos Estados Unidos no Brasil à época.
O golpe que arrebatou Jango do poder se consumou em 1º de abril ( o dia da mentira mesmo!), não em 31 de março de 1964, como querem os militares. 
Kennedy foi assassinado antes disto, em 1963, em Dallas, no estado do Texas, não viveu para assistir à consumação dos seus planos, mas já deixara traçado o nosso destino, como quem faz legado de uma herança maldita.  A sua obstinação em derrubar Jango foi tão grande, que, segundo as palavras do almirante Paulo Mário, ministro da marinha do presidente gaúcho nos últimos dias que antecederam o golpe, as forças leais ao mandatário brasileiro tinham plenas condições de vencer um possível embate, o próprio ministro já se preparara para reagir, tendo sindo impedido por Assis Brasil, que lhe trouxe ordens  expressas do então chefe do governo do Brasil para que não reagisse em nenhuma hipótese.  Nada restou então ao almirante senão capitular. Tempos depois, conforme relatou , soube que já  havia submarinos americanos na região costeira do Brasil, prontos a atacar em caso de haver reação.  Ou seja, Jango cedeu para que o Brasil não fosse transformado num outro Vietnã.
Analisando os fatos, se o Brasil chora a morte de Kennedy, faz isto esquecido de chorar Wladmir Herzog, Rubem Paiva e tantos outros que foram cruelmente assassinados em decorrência das articulações do defunto que insiste em carpir.  Se  formos ter os guerrilheiros (os que se armaram contra o regime militar) na conta de também seres humanos (como eles merecem), não podemos esquecer que Carlos Lamarca foi executado a sangue frio, quando já morria de fome e sede no sertão da Bahia, que Carlos Marighela teve a vida ceifada numa arapuca armada pelo sanguinário e psicopático Fleury; que Stuart Angel Jones também foi cruel e covardemente morto, assim como Zuzu Angel, mãe da vítima, por querer apurar as circunstâncias da morte do filho.  Ou seja, como é possível chorar um defunto que marcou por sua atuação póstuma de produzir uma série de mortes?
É claro que Kennedy não deve ter sozinho tomado a decisão de transformar as coisas aqui num inferno, pois era apenas parte de um sistema que se urinava de medo de a revolução cubana se expandir por toda a América Latina, mas ainda assim não pode ser poupado do severo julgamento da posteridade, sobretudo por ter sido peça de suma importância e grande poder de fogo naquele processo.

2012

sábado, 22 de setembro de 2012

VOTO E "MUDANÇAS"

Para aqueles que acreditam que a gente possa mudar alguma coisa através do voto, aqui vai minha observação: só se o voto for de castidade.

2012

domingo, 16 de setembro de 2012

O PIOR OFTALMOLOGISTA DO MUNDO


O pior oftalmologista do mundo é o do Lula (por favor, procurem saber o nome e não se consultem com ele), porque o mensalão aconteceu diante das barbas e dos olhos do ex-presidente sem que este visse ou soubesse absoutamente de nada.

2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

MEU PERFIL

Sou  Demóstenes, nascido no Rio de Janeiro, em 1958.  Penso como um anarquista, mas infelizmente reconheço que o anarquismo é uma utopia e consequentemente impraticável - e nem poderia tentar colocar em prática a minha ideologia anárquica, porque preciso do meu emprego e principalmente de comer. Fui também de esquerda, mas hoje não sou mais nada, porque os políticos brasileiros (e também os estrangeiros) bem mostraram, ao longo da história, que o socialismo, embora praticável, não é e nem poderá ser colocado em andamento por conta da ganância desmedida dos poderosos e da torpeza dos políticos, que no máximo vendem uma imagem de esquerdistas, mas, quando se veem investidos de autoridade e elementos para lutar pela implantação de um sistema socialista, preferem seguir a velha cartilha do poder econômico, que é aquele feijãozinho com arroz que garante aquele salariozinho farto e aquele vidão danado de bom, não é? Tolo é quem neles acredita - como eu já fui tolo de accreditar.
Sou um incrédulo inato, até porque é impossível (ou ao menos creio ser impossível) ter a idade que tenho e viver tantas experiências sem perder a credulidade em relação a muitas coisas. Dizem que sou irreverente e admito que sou. Tenho também um senso crítico que chega a ser cruel, mas isto se dá por convivência, já a partir da adolescência, com companhias que também tinham um senso crítico exacerbado, perto das quais sempre me considerei um parvo aceitador de tudo sem questionamento. Ou seja, em outras palavras, sou fichinha perto deles. Se você os conhecesse, ficaria estupefato.
Amo os animais quase como se fossem todos meus filhos, mas isto eu posso dizer que veio com o meu nascimento. Não me lembro de ter tido influência de ninguém neste sentido. E o nome BARÃO de Barão da Mata é uma irreverente homenagem a um cachorro que a minha falecida mãe teve. O DA MATA, por sua vez, é uma manifestação de minha afeição pela natureza.
Não gosto do poder e dos políticos, mas não sou maluco de sair por aí lutando contra eles, porque estamos sob o jugo dos mesmos e é só pensar um pouquinho para perceber que esses caras podem nos esmagar com uma pontinha de dedo. Se você duvida, pesquise sobre o período do regime militar e entenda que, civil ou militar, o poder é algo de altíssima periculosidade. Não creio nessa história de democracia. Imagine se no meio da sociedade houvesse um número de contrários ao sistema considerável a ponto de ameaçá-lo. Aí você veria muita coisa esquisita. Só me politizei ao finalzinho do regime dos generais, mas confesso que não teria coragem de afrontá-lo, porque sempre entendi a importância da minha integridade física e de poder trabalhar e ganhar o meu pão.
Tornei-me (ou sempre fui) avesso a doutrinas porque elas tolhem e demarcam o pensamento. Não creio no ser humano por achar que o conheço o bastante para tanto.
Não há mais muito que ache interessante falar sobre mim. A não ser que escrevo também em dois blogs ( baraodamata.blogspot.com e baraodamataprosa.blogspot.com ), os quais eu gostaria de que você visitasse, sem lhe pedir que faça qualquer comentário - apenas me obsequie indicando-os, como este site, aos seus amigos no caso de achar os meus textos merecedores.
Um abraço com desejos de muitas felicidades a todos vocês.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O MAU HUMOR DOS DIAS ATUAIS - OU O MAU-HUMOR DA COMÉDIA DE HOJE


Ainda me lembro da cena hilária de “Um Assaltante Bem Trapalhão”, de Woody Allen, em que o menino que interpretava o personagem principal ainda na infância entrava numa loja de animais para roubar e saía do estabelecimento perseguido por um enorme gorila.  Outras cenas extemamente engraçadas vi em filmes e programas humorísticos de tevê, como “Satiricom”, que reunia Jô Soares, Renato Corte Real, Agildo Ribeiro, José Vasconcellos, Paulo Silvino e outros  talentos da comédia nacional.  O cinema americano transmitiu outros filmes cômicos de alta qualidade, como “Top Secret”, “Amor à Primeira Mordida”, “Cactus Jack, o Vilão”, com Kirk Douglas e Arnold  Schwarznegger, “Bananas” e “O Dorminhoco”, ambos do já citado Woody Allen, “Muito Além do Jardim” e “Um Convidado Bem Trapalhão”, os dois com Petter Sellers, mais um gênio do humor.
Aqui no Brasil, “Satiricom” foi o humorístico de mais alto nível que já assisti.  Mas não fica nada  longe “Tevê Pirata”, com textos de, entre outros, Luiz Fernando Veríssimo, que ia (o programa) com muita propriedade e muita competência do pastelão à sátira, numa forma primorosa de fazer humor.   Chico Anysio com seus programas também não pode ser esquecido.  O cearense era, além de pintor, um humorista brilhante, de uma criatividade e diversidade de tipos e características (como vozes e gestos, jeito de falar)que nenhum humorista no mundo irá alcançar.  Era talento a transbordar pra todos os lados.
Tudo isto entretanto é coisa de saudosista: os programas e filmes de humor de hoje são simplesmente sofríveis, apelativos, sem graça, entediantes, monótonos, medíocres e chinfrins. Já em 1976 ou 77, entrevistado por J. Silvestre, Silvino Neto professou que o caminho do humor seria a sátira, pois, do contrário, não se faria graça pra ninguém.  Ao que parece, porém, os autores, atores e diretores de comédias mais que abandonaram: desprezaram esta linha, e mesmo quando tentam adotá-la são profundamente infelizes.
Entrei no cinema para acompanhar a namorada e sofri o lancinante martírio de ver “Um Divã para Dois”, com os grandes e consagrados Tommy Lee Jones e Meryl Streep, cujos talentos, mesmo somados, nada puderam fazer num roteiro paupérrimo de uma comédia de situações extremamente morna, chata, sonífera.
O que foi feito dos grandes roteiristas e atores de humor? Aqui no Brasil, me parece que,com a morte de Haroldo Barbosa e Chico Anysio, e a saída de Jô Soares para as entrevistas, a espécie ficou extinta. E assim, quem tiver a pretensão de querer ver comédia, terá de digerir “Zorra Total”,“A Praça é Nossa”, “A Turma do Didi (Nossa Senhora!)” e outras porcarias de baixíssima qualidade.  Ou então assistir aos humores americanos de não maior quilate que as tevês por assinatura  veiculam.
O pessoal do "Casseta e Planeta" pareceu tentar trazer algo novo, mas, para entender o programa, você tinha de ver a novela das oito, porque os caras limitavam-se a fazer paródia do folhetim transmitido anteriormente.  Como a maior parte das novelas são enredos ruins, eu preferia optar por não ver a novela nem a sátira, já que o "Casseta" era não mais que propaganda do mela-cueca que o antecedia.  Incrível que tenham participado das criações de "TV Pirata".
Em suma, o grande problema do humor atual é que de humor ele não tem mais nada, anda num mau-humor dos diabos!

2012
Barão da Mata

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

DERAM O LIVRO ERRADO PRO WALCY CARRASCO LER

Tive o grande prazer de assistir, em 1975 (aos 17 anos), pela Globo à novela "Gabriela", estrelada por Sônia Braga, Armando Bógus e José Wilker, adaptada da obra de Jorge Amado para a tevê por Walter George  Durst.  Já lera naquela época "Terras do Sem Fim" e "Os Pastores da Noite", do mesmo romancista, e ver a novela me fez ainda mais admirador do autor baiano - que mais tarde vi (e ainda vejo) como uma espécie de vítima, em vida, de um certo preconceito e elitismo intelectual, porque grande parte de seus romances ocorre em ambientes de grande concentração de pobreza, com a presença de inúmeros personagens inseridos nas camadas marginais (prostitutas, vigaristas, jogadores, delinquentes, ladrões), e a linguagem dos tipos do  narrador realista é a utilizada pelos membros de tais grupos, com pornografias e expressões pouco acolhidas pela intelectualidade.  Como se não bastasse torcerem o nariz para as situações e falas das figuras criadas por Amado, este ainda era visto, por ser muito lido e vendido para todas as classes sociais,   como uma espécie de escritor de repertório brega.  Jorge chegou a dizer, ironizando e atacando seus críticos, que era "autor das putas e dos vagabundos".  Ao fim de tudo, entretanto, todos tiveram de se render ao fato de ele ser um dos  mais lidos no mundo inteiro.  Como não bastasse isto, a sua morte foi o grande golpe de misericórdia na crítica preconceituosa, e hoje Jorge Amado é um autor inserido entre os mais eruditos do Brasil.
Embora não pudesse deixar de fazer os comentários que fiz, não é à figura de Jorge Amado que me quero prender, mas à adaptação atual de "Gabriela, Cravo e Canela", desta vez realizada por Walcy Carrasco.  Li o romance em 1990, após outros dez ou onze do mesmo criador, e, se havia deturpações na adaptação de Durst (que fez Chico Anysio dizer que, se fosse Amado, dar-lhe-ia o livro - logicamente num protesto contra as modificações), na adaptação de Carrasco existe a quase absoluta ausência da obra do falecido romancista baiano.  O homem (Carrasco) acrescentou personagens que não havia, suprimiu alguns existentes, criou passagens e histórias não acontecidas, deu a criaturas falas que nunca aconteceram, fez falar muito quem não falava nada, promoveu uma bagunça danada na narrativa!  Estuprou a obra.  
Apesar de contar  com atores do gabarito de José Wilker (antes Dr.Mundinho, agora coronel Jesuíno, mas que deve sempre ser visto), Antônio Fagundes (que, veja só, faz um coronel Ramiro Bastos forte e espadaúdo, ao contrário do oitentão decrépito do romance e da novela de 1975 - interpretado pelo grande e magnífico Paulo Gracindo ), Ary Fontoura (Dr. Pelópidas na antiga novela), Laura Cardoso (que faz a mãe do coronel Amâncio Leal e fala e exerce uma grande ascendência e liderança sobre as pessoas, quando, traído por minha memória, tenho a impressão de que a velhinha, se existiu, não falou nada ou quase nada durante toda a novela e o romance).  Em contrapartida, porém, Amâncio Leal, interpretado com grande brilho por Castro Gonzaga no passado, é hoje vivido por um cara que, tentando imitar a voz grave do falecido ator, mais parece que enfiou um ovo de  avestruz na boca e não consegue mostrar nem sotaque nem aquela autoridade perversa e natural passada aos espectadores por Castro (apesar de, no romance, Amado narrar que a figura tinha a fala mansa e afável embora fosse uma pessoa perigosa).  Marcelo Serrado faz um Tonico Bastos que não tem nenhuma personalidade,  a mínima graça, tentando debalde imitar o Fulvio Stefanini, que brilhou tanto na papel, que ouviu do próprio Jorge: "O SEU Tonico Bastos é melhor do que o meu."
Se  Walter George Durst em sua adequação da história à tevê não respeitou alguns pontos da obra, Walcy Carrasco fez uma miscelânica dos diabos, começando pelo Nacib vivido pelo Humberto Martins, que está longe, muito longe de chegar perto do grande Armando Bógus.  Pode ter acertado  a mão na escolha de Juliana Paes, que é bonita e gostosa como o quê, muito embora eu ache estranho que, em 1920, uma mulher usasse vestidos tão curtos e decotes tão ousados como os da atriz sem ser violentada pelos tarados e literalmente linchada pelas mulheres dos coronéis e as outras ciumentas da cidade.  Mais impressionante é que, vanguardista em matéria de moda íntima, aquela Gabriela usa calcinhas fio-dental ainda naquele tempo.  Incrível! Quem seria o estilista?  Adoro bunda, peitos e coxas, sobretudo em se tratanto da mencionada atriz, mas que não existia fio-dental naquela época, não existia mesmo!  Ao que me lembro,  a bela invenção só nos agraciou os olhos a partir dos anos 1980.
Em suma, o que eu acho é o seguinte: alguém da equipe sabotou o nosso Carrasco e lhe entregou o romance errado, mas que ele não leu "Gabriela, Cravo e Canela", ah(!), minha gente(!), não leu não!

2012

domingo, 24 de junho de 2012

SE ELES SÃO SOCIALISTAS, EU SOU O CHE GUEVARA

Tem gente que ainda crê em esquerda.   Eu, não.  A única esquerda em que creio é e a minha curvatura fálica.  Já no tempo do Plano Cruzado, quando José Sarney atingiu índices altíssimos de popularidade, tornando-se uma quase unanimidade, uma porção de "ovelhinhas" da esquerda já  pulara o cercado para o lado do então presidente.  Quando Collor se elegeu, em 1989, outro farto grupo de socialistas tornou-se apóstata (palavra estranha, não?), convertendo-se em seguidores do "heroico" mandatário.  Depois veio Fernando Henrique, José Serra e seus outros asseclas.  FH mandou que esquecessem marxismo, socialismo  e tudo o que ele próprio escrevera, e deu o braço a Antônio Carlos Magalhães e Roberto Campos e disse "é com esses que eu vou", e a gente não viu até hoje um socialdemocrata tão conservador, tão neoliberal, perversamente reacionário.
Em penúltimo lugar veio o Lula, que nós, eleitores românticos  e sedentos de justiça social, achávamos que era uma espécie de messias, que precisava vir para resgatar o Brasil, implantando uma nova mentalidade e representando o prenúncio de profundas mudanças no campo social, ético e político.  Pois é, este elegeu-se duas vezes e seguiu com rigor a bula do poder econômico, além de, gozado, todo o esquema do mensalão haver acontecido o tempo inteiro diante de suas barbas e olhos, sem que o nosso pobre míope se apercebesse.   Deve ser mesmo coisa de messias: além de santo, ingênuo.
Por fim, veio a Dilma, que mantém a política assistencialista barata do antecessor e tenta, de todo modo, imitar a perversa Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra inglesa, mulher de ultradireita e de uma teimosia inigualável, além de praticante de uma política externa agressiva e sanguinolenta como a do demoníaco Ronald Reagan (isto sem citar George W. Bush, que é uma espécie  hitler do terceiro milênio). Ah, sem dúvida! O mau-humor,  a teimosia, o pensamento antidemocrático e a maneira de trajar-se da presidente muito a assemelham à ex-manda-chuva britânica, que a meu ver não é em nada modelo a ser seguido por ninguém.  Mas já que nossa chefe gosta...
Por fim, o que eu tenho a dizer é o seguinte: Se Lula, FH, Dilma e o PT são socialistas, eu sou o Che Guevara.  Caí em conversa fiada de "esquerdinha" só até 2002, e já foi uma burrice imperdoável, tá?  Agora, se você você quer continuar acreditando, é porque encarna a mais genuína figura do eterno corno eleitoral.

2012

sexta-feira, 11 de maio de 2012

DECLARAÇÃO NACIONAL DOS DIREITOS DO CORRUPTO



Art. 1º   Todo corrupto tem direito a foro privilegiado.


Art. 2º   Todo corrupto tem direito a eleger-se após a prática do ato ilícito



Art. 3º   Todo corrupto tem direito a ser defendido e bajulado pelos colegas de categoria, seja ele parlamentar, gestor público ou privado, criminoso contumaz, empreiteiro traficante ou praticante de qualquer ofício



Art. 4º  Todo corrupto tem direito à impunidade, que deve ser obtida em qualquer das instâncias judiciais e, no caso de persistência da sanção, à mudança da lei de modo a beneficiá-lo

          § 1º   No caso de alguma autoridade tentar tirar do corrupto o sagrado direito à complacência, esta autoridade deverá ser perseguida ou desmoralizada,  ou ainda fisicamente eliminada, mas por qualquer meio afastada do processo de investigação, seja ele inquérito policial, parlamentar ou de qualquer outra natureza



Art. 5º  Todo corrupto tem direito a roubar dinheiro público, seja do orçamento municipal, estadual ou federal, e ainda de roubar pirulito de criancinha

Art. 6º   Todo corrupto tem o direito de ver os seus delitos "abafados" pelas fontes noticiosas



Art. 7º   Todo corrupto tem o dieito de comparecer a programas de auditório para ser defendido por comunicadores demagogos e a debulhar-se em lágrimas de crocodilo em tais eventos



Art. 8º  Todo corrupto tem o direito de ficar macho pra cacete e esbravejar quando lhe denunciam as torpezas realizadas



Art. 9º  Todo corrupto tem direito a praticar fraude



Art. 10º  Todo corrupto tem o direito de inventar para si tantos direitos quantos ache necessário inventar para safar-se de uma ou mais acusações



Art. 11º  Todo corrupto tem direito a exigir que sejam reduzidos os gastos públicos com saúde, educação, segurança, habitação e salários de servidores e aposentados, para cobrir o rombo acarretado por suas trampas 


                                     Brasília, todos os dias de todos os meses de todos os anos



Assina esta declaração a SNPPBEC - Sociedade Nacional Para Proteção e Benefício dos Corruptos, entidade composta por tantos, mas por tantos membros, que deixa a gente de queixo caído.

terça-feira, 1 de maio de 2012

SE TODOS SÃO CONTRA A CORRUPÇÃO, POR QUE HÁ TANTOS CORRUPTOS?

Eu não consigo entender.  Passeatas reúnem quantidades consideráveis de pessoas, na mídia todos os entrevistados, políticos ou não, se batem contra a corrupção.  Existe uma unanimidade tão gritante contra a corrupção, que eu fico achando que no Brasil não tem nenhum corrupto.  Mas como há, em nível municipal, estadual, nacional, no âmbito público e privado, tantos casos de corrupção??  Fica de olho, pessoal, porque tem, bem mais do que imaginamos, muito sujeitinho por aí afanando as coisas e gritando "pega ladão".  Ou será que é muita gente só naquela história de um querer combater a corrupção do outro?  Assim não pode.

2012

terça-feira, 24 de abril de 2012

DOS EVANGÉLICOS DENTRO E FORA DA POLÍTICA

Li hoje uma manifestação no Facebook para que não votássemos nos candidatos que têm a autodenominação de evangélicos.  As razões do manifesto me pareceram plausíveis, pois argumentam que há o intento, por parte de um número considerável de crentes, de exercer um certo domínio sobre o pensamento e as atitudes humanas.
Concordo com eles em gênero, número e grau, quando dizem que há um intento por parte dos protestantes de promover no Brasil uma ditadura afinada com as suas idéias e preceitos.  Noto que o movimento religioso vem crescendo vertiginosamente, e nada haveria nisto de negativo se primeiro muitos dos membros não quisessem atribuir unicamente a si próprios a condição de evangélicos, quando evangélico é todo aquele que lê e professa o Evangelho, papel que é exercido pelos católicos, espíritas da linha de Kardec e vários outros grupos religiosos, com a participação, ainda que muitíssimo discreta (por mais estranho que pareça), de alguns espíritas do candomblé e da umbanda.  
Não sou espírita, católico ou protestante, não tenho matiz religiosa, e isto me dá muita liberdade para dizer que os ímpetos desse pessoal precisam ser contidos, não através da solução radical de não se votar em evangélico, mas sim de observar bem, no caso de o candidato ser protestante, se seria este merecedor ou não de voto, sobretudo porque, pelas informações que venho recebendo, a chamada bancada de Deus do Congresso está muito longe de ser um poço de virtudes.  
Em segunda e mais importante análise, é preciso que os chamados evangélicos, quer na política ou no dia-a-dia, respeitem que nos é assegurado pela Constituição o direito à mais absoluta liberdade religiosa, que inclui até mesmo o direito de não crer em nada.  Seria muito ridículo se o Brasil se tornasse um Estado teocrátrico protestante.  Muito "bonito" seria os cristãos, na Antiguidade perseguidos, agora passarem a perseguidores. 

2012

segunda-feira, 23 de abril de 2012

BREVES SUGESTÕES PARA QUEM VAI SE SUBMETER A EXAME DE PRÓSTATA PELA PRIMEIRA VEZ


Eu sei que esse negócio de fazer exame de próstata é incômodo.  Porém não mais do que incômodo.  Se você tem alguma outra objeção, eu peço perdão, porque não sabia que  sua masculinidade era tão frágil, que um simples exame feito por um profissional de saúde lhe traria à flor da pele tão inconfessos instintos.
Nascido em 1958, já fui examinado inúmeras vezes, mas falar de tais investigações médicas já me valeu ouvir as maiores asneiras do mundo.  Já vieram uma vez defender a "inviolabilidade" do reto masculino.  Brilhante raciocínio! Perdi um irmão  a partir de um câncer intestinal. Já fiz  e tenho de fazer colonoscopia de vez em quando. Na visão do defensor da imaculabilidade da região proctológica o portador de hemorroida tem de sofrer calado,   o de câncer, pior, deixar que a coisa vire metástase de uma vez por todas, mas preservar acima de tudo a "honra".  Uma vez um homem de setenta anos e o cérebro do tamanho de um grão de arroz  levantou as mãos pro céu, suplicando:
- Deus que me livre de um negócio desses! Já disse à minha mulher: "Se eu parar num hospital e ficar desacordado, por favor(!), me deixa morrer, mas não deixa fazer isso comigo.  Deus me livre... perder a virgindade na mão de um outro homem..."
Muito bem feito pra mim, pra aprender a ficar calado ao invés de falar com produtores de imbecilidades em larga escala.  Nunca tive nenhum gosto sexual que no passado fosse considerado exótico e hoje seja quase uma obrigatoriedade para quem não queira ser chamado de reprimido ou anacrônico.  Em outras palavras, não sou homossexual, ou melhor, homoafetivo - que é a mesma coisa mas a terminologia que querem que a gente use - nem nunca tive nenhuma experiência neste campo, nem tampouco tenho qualquer coisa contra a definição sexual de quem quer que seja.
Mas posso, com minha experiência, dar alguns conselhos àqueles que se submetam pela primeira vez a um exame clínico de próstata.
Primeiro, se você se sente acometido de alguma inibição ou insegurança, procure parecer simpático e amigo, e leve um presente para o médico: pode ser uma gravata, um perfume ou uma garrafa de vinho (de preferência acompanhado de um cartão).  Ele ficará agradecido, risonho, retribuirá a simpatia, e aí você vai ficar mais à vontade.
Depois, o urologista (se você não quiser ser examinado  pelo otorrino que mais lhe agrade) pedirá que tire as calças.  Neste momento, sei que o  amigo aí vai ficar inibido, atarantado, e eu sugiro que, para relaxar, pergunte ao especialista se não há um rádio para tocar antes (e durante) uma música suave.
Já de calças abaixo dos joelhos, suado e trêmulo, quando o profissional de saúde mandar-lhe ficar na humilhante posição, seja brando com ele e se explique:
- Doutor... sem querer atingir a sua autoestima... eu gostaria de dizer que... eu gostaria de dizer que...
- Diga, meu amigo!
- É que, doutor... é a minha primeira vez.
Aí eu lhe garanto: ele será compreensivo, calmo, cuidadoso, paciente, e as coisas fluirão naturalmente.
Eu, de minha parte, sempre fui extremamente tranquilo em relação a essas coisas e nunca tive medo ou inibição, nem muito menos senti em xeque a minha masculinidade.  Mas com você pode ser diferente. Por isto sugiro que, após sair do consultório, evite ficar pensando no médico ou se sentir envolvido pelo fato de este haver sido tão ameno, porque terá agido unicamente com profissionalismo, sem outro intento que o de fazer o seu trabalho da melhor maneira possível.  Ou seja, não adianta depois ficar se queixando:
- Insensível... além de não ter demonstrado a menor emoção, nem sequer me convidou pra jantar...
Ah! E mais!  Não adianta ficar ligando pra ele:
- Eu não tô bem hoje, tô sentindo um vazio, parece que falta alguma coisa, e precisava me abrir com alguém, uma pessoa em quem pudesse confiar... Aí então me lembrei de você.  Você me pode ouvir um tempinho? Sinto que tô precisando de colo...
Muito provavelmente ele será ríspido:
- Meu amigo, eu preciso trabalhar. Por favor, resolva seus problemas existenciais com o seu terapeuta.
Agora, se você  estiver seguro de que é plenamente masculino, submeter-se-á ao exame e, finda a consulta, apertará a mão do médico, irá embora e só voltará a procurá-lo um ano depois.


2012
Barão da Mata




sexta-feira, 20 de abril de 2012

A SERPENTE DO PARAÍSO FOI O PRIMEIRO DE TODOS OS ANARQUISTAS


Já ordenara o Senhor Deus:
"De toda  árvore do jardim comerás livremente,
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás."  - Gênesis 2:15-17.

E não é que a serpente, anárquica e rebelde, ficou soprando ao ouvido da Eva?
- Qual é, Eva? Não tô nem te entendendo!  Vai-me dizer que vai entrar numa de bancar a servil e  obedecer aos caprichos do Todo Poderoso? Pô, Eva, não entra nessa!  Vai agora ceder a pressões de cima, capitular aos desígnios do poder?  É preciso  desobedecer, gata(!), e mostrar que você e o Adão são autossuficientes e senhores dos seus narizes, e não aceitam essa postura autoritária e antidemocrática, essa coisa assim ditada de cima pra baixo e sem nenhum debate político.  Desobediência já!
A mulher olhou para Adão, viu-o vacilante,  pegou na árvore o fruto e deu-se a morder a última:
- É isso aí, serpente!  Chega de totalitarismo!  O Senhor tem toda a força do Universo, e nós, cidadãos capazes de governar a nós próprios, não podemos acatar ordens ou determinações de nenhum gestor, porque simplesmente repudiamos e renegamos a figura da autoridade e reivindicamos o nosso legítimo direito à autodeterminação.
- Apoiada! - bradou Adão brandindo os braços.
Depois deu o sururu que você sabe: após comerem o fruto do conhecimento, foram severamente repreendidos e punidos, expulsos do paraíso, tiveram senso de malícia erótica e dois filhos, o trauma da morte do filho Abel pelo próprio irmão Caim, e nós, descendentes do primeiro casal , herdamos os seus débitos e  até hoje sofremos um sem-fim de percalços como forma de pagamento da dívida.
Dizem que os dois cônjuges, apesar da drástica punição, ainda muito tempo depois viviam a bater nos próprios peitos, orgulhosos de sua insubmissão:
-Tomamos uma porrada feia, comemos o pão que o diabo amassou, mas que ficou registrada na história a nossa rebeldia e coragem, ficou! - num discurso parecido com o dos líderes sindicais de hoje, que levam a categoria a que pertencem à greve e à derrota, com desconto de dias de paralisação, perda de emprego, rebaixamento de cargo, inúmeras humilhações e, acovardados,declaram, fugindo à luta  e tentando consolar os liderados:
- Ficamos sem aumento e houve um monte de demissões, não importa se ganhamos ou perdemos, e sim que ficou clara a nossa insatisfação e marcado o nosso protesto pela situação atual.
A serpente, sim, mais autêntica, inconformada, cônscia dos prejuízos sofridos, pragueja:
- Ah, que rábia! Por eso siempre digo: hay gobierno?  Soy contra!

2012




sexta-feira, 6 de abril de 2012

AUTODEFESA DO SENADOR DEMÓSTENES COMO NA ANTIGA GRÉCIA

  Pelo que a grande imprensa diz (ou no mínimo, no mínimo insinua)a gente deduz que a marcante analogia entre o Demóstenes de Atenas e o de Brasília é que o grego tornou-se o maior orador da Antiga Grécia a partir de exercícios em que enchia a boca de pedras de cachoeira para vencer a gagueira e apurar a oratória, enquanto o " paladino da ética brasileira" mostra uma estreita ligação com o Carlinhos Cachoeira, ou seja: ambos têm em comum o fato de obterem, cada um a seu modo, alguma vantagem de algum tipo de cachoeira, seja cachoeira um manancial ou um homem com um sobrenome de acidente geográfico.  Quando falamos cachoeira, aliás, é preciso lembrar que ambos são mananciais importantes, um de água e outro de dinheiro.
Imagine o nosso defensor da integridade moral fazendo a própria defesa no parlamento, nos moldes da Grécia Antiga:
- Nobres compatriotas, amadas concidadãos!... Se a mim acusais de corrupção pelo simples fato  ser eu afeito a cachoeira e de obter o que há de melhor de cachoeira, a vós indago, ó nobres irmãos e arrimos desta pátria: o que há de mau nisto? 
É bem verdade que, pela tentativa de induzir os julgadores a erro,  deste modo estaria mais para Sófocles, fundador da escola dos sofistas, do que para Demóstenes.  Mas já que divagamos, poderíamos ir à maiêutica de Sócrates, condenado a beber a cicuta sob a acusação de pregar contra os deuses oficiais e corromper a juventude.  Livrar-se-ia da pena caso admitisse a culpa e pedisse perdão, preferiu porém argumentar que não impugnara os deuses e ao mesmo tempo aclareara as idéias dos jovens sobre inúmeros assuntos, que portanto, para que fosse feita justiça, deveria receber do erário uma pensão vitalícia pelos serviços prestados ao Estado.  Diante da inflexibilidade do tribunal, optou por receber a pena capital.  Tido pelos historiadores da antiguidade como o mais sábio dos homens, sua escola (maiêutica) consistia em confundir os interlocutores, que sempre ficavam sem meios de refutar as suas argumentações.
No caso do senador brasileiro, como ele faria a autodefesa aplicando as lições de Sócrates?
- Ilustres julgadores, não tendes vós conhecimento do que é uma cachoeira?  Não usufruístes jamais o que uma cachoeira vos pode  proporcionar?  Respondei, nobres homens de minha pátria, o quão aprazível e deleitante é receber tudo de bom que uma cachoeira nos pode oferecer.  Cachoeira, fonte de vida, esplendor, benesses, que nos refresca e faz felizes... assim sendo, nobres concidadãos(!), dizei-me de uma vez por todas! Quem de vós sabe me dizer as diferenças básicas entre uma cachoeira, uma cascata e uma catarata?! E de que catarata vos falo?! Oftálmica ou geográfica?!  Teriam cura ambas as cataratas?  Se não me sabeis responder com clara precisão, então me dizeis: que mal, então, senhores, há numa cachoeira?
"Por haver esclarecido esta sociedade sobre a importância e magníficência das cachoeiras, proponho que designeis a mim uma pensão vitalícia pelos inegavelmente relevantes serviços prestados a este país.  Caso, entretanto, Vossas Excelências não concordeis com minha proposta, preferirei a condenação a beber não a cicuta, mas um copo dessas infames e mortais cervejas baixa-renda que fabricam por aqui.
Deixando de lado o humor, a grande verdade é que os políticos daqui são de um caradurismo acintoso e não têm o menor respeito pela sociedade que lhes dá aqueles empregos sem similares.

2011


sábado, 31 de março de 2012

BRASILIDADE PELA METADE

Não me move nem comove todo esse interesse, esse afã desmesurado pela Copa do Mundo, toda essa torcida pejada de paixão pela seleção brasileira, quando em momentos como o tempo das privatizações e entrega do patrimônio nacional (por exemplo a Vale), os fervorosos torcedores ficaram alheios e indiferentes às reais derrotas que o Brasil verdadeira e definitivamente ali sofreu.  Que brasilidade é essa?

2012

quinta-feira, 29 de março de 2012

QUE PAÍS É ESTE?!

Queria que você me explicasse uma coisa: por que, quando uma mãe leva um homem à Justiça afirmando ser ele o pai  do  filho que ela tem, e o réu se nega a fazer o exame de DNA, a Justiça decreta a paternidade e o assunto está encerrado, enquanto um pústula embriagado ao volante se recusa a soprar o bafômetro ou fazer exame de sangue não pode ter sua embriaguez decretada e pagar pelo seu crime?  Não estou defendendo pais que não assumem filhos, mas não entendendo por que num caso pode ser feito e no outro, não.
A decisão do STJ é lamentável, e mais do que nunca entendo a bizarrice que o Renato Russo via (e eu também sempre vi) no Brasil ao perguntar que país é este.  Não só repito a pergunta do cantor-compositor, mas também a minha em texto anterior: você já cometeu seu crimezinho hoje?

2012

quarta-feira, 28 de março de 2012

"A ÉTICA DO MERCADO" - MAS COMO AQUI TEM ÉTICA!

Muito gozada aquela declaração da funcionária da prestadora de serviços que caiu na pegadinha da Globo e declarou ao jornalista (pensando lidar com um gestor ou comprador público) que dar  ou receber  propina era " a ética do mercado".    Longe de mim querer execrá-la, porque esta não é proprietária, mas empregada de uma entidade privada cujos dirigentes apontar-lhe-iam cordialmente a  porta de saída caso a mulher se recusasse a oferecer ganhos ilícitos a servidores para a contratação da firma.  Estou no entanto perfeitamente ciente da possibilidade de ela gostar de fazer aquele papel, como sei que muitos na sua condição gostam de fazer aquele joguinho de leva-algum-e-compra.  "É a ética do mercado", como foi dito. Não é mentira, todos sabem muito bem disto.  Tudo é fruto da impunidade.  Todos sabem que onde não há punição existe um oba-oba generalizado.
O vício da propina é antigo.  Quando eu tinha vinte e um anos, em 1979, empreguei-me como pretenso vendedor (digo pretenso porque não vendia nada e tive carreira curta)  de uma fábrica de brindes e, após fechar verbalmente um pedido com um comprador de uma empresa, quando fui oficializar a venda através da assinatura do pedido, o sujeito me perguntou:
- Mas e a minha comissão?
- Comissão? - respondi indagando, inocente e inexperiente.
- Pois é, minha comissão, como fica?
Lá os pretensos fornecedores não tinham oferecido nada, e não é preciso dizer que não aconteceu venda nenhuma, tendo eu deixado de fechar o que seria o meu segundo pedido em mais ou menos três meses. 
Mas já tinha conhecimento, por comentários de outros vendedores, que alguns (não todos, mas alguns) entre os compradores recebiam "uma bolinha" (gostou da expressão?) costumeiramente.
Então, se aquele tipo de coisa acontecia em 1979, e eu nunca presenciei nem soube de uma punição por conta de tal praxe, imagine como o negócio funciona hoje.   Vou repetir o que os outros falam: "É assim mesmo, quem não é esperto não se dá bem."  É a "ética do mercado", não é?
Aqui no Brasil há muitas éticas, cada uma em seu setor.  Tem a ética do malandro, que não dá golpe em otário de outro malandro, a ética do traficante, que não vende drogas em território de outro traficante.  A ética do político corrupto, que não denuncia o colega igual (mas - risos - nem sempre é cumprida).  A do policial pilantra, que não entrega o parceiro, e vai por aí adiante.  São vícios, tudo é decorrente da impunidade. 
As leis versam contra propinas, mas criar ou aprovar leis sem mecanismos de fiscalização é uma grande hipocrisia, e o hábito da propina sai tão caro para a sociedade brasileira, que não sobra nada para investimentos em bens sociais.  Imagine se tudo o que se consome quanto a compras e contratações públicas custar dez por cento a mais: este percentual  dos impostos pagos vai para o bolso de vigaristas.  Significa que sua vida é dez por cento mais cara por causa deles.  Agora, se levarmos em conta os outros desvios praticados por gestores públicos desonestos e políticos ímprobos, ocorre a evasão de uma percentagem que a gente sequer consegue imaginar. 
Ou seja, o erário é lesado, o patrimônio público é subtraído, e nós, cidadãos (ou pretensos cidadãos) pagamos uma conta do que não nos retorna em bens, benefícios e serviços.  Só a ética dessa gente é o que é preservado. Ou melhor, as diversas éticas professadas por grupos iguais, semelhantes ou distintos, sejam eles malandros ou bandidos com cargo oficial, carteira assinada ou alojados na clandestinidade.

2012


DE UM DEMÓSTENES SOBRE OUTRO (OU OUTROS) DEMÓSTENES - OU JÁ NÃO FAZEM MAIS DEMÓSTENES COMO ANTIGAMENTE

Não sei se você sabia, mas assim como o famoso senador, também me chamo Demóstenes (não sou Barão nem da Mata).  E Demóstenes, traduzido do grego para o português, quer dizer força do povo.  É o nome que todo político gostaria de ter e com o qual o nosso ilustre parlamentar foi agraciado.
O Demóstenes da Grécia (384 a 322 A.C.) recebia  o epíteto de " O Leão de Atenas" e, segundo alguns registros históricos, fazia jus à alcunha, pois foi autor de discursos famosos e tentou a todo custo libertar o povo grego do jugo da Macedônia e, uma vez derrotado, preferiu matar-se por envenenamento a se entregar aos dominadores.
Já o nosso senador até que tentou bastante marcar o próprio nome na história brasileira, através de inúmeras bandeiras da moralidade que empunhou.  Defendeu a ética, a dignidade, a integridade,  a probidade administrativa, e apareceu tanto no cenário nacional com seu discurso de bom-moço e de defensor da honorabilidade, que, incrédulo,  fiquei imaginando: "Vão acabar dando a ele um título parecido com o do xará (não faltaria jornalista baba-ovo nem político cínico para isto), quem sabe 'O Leão de Brasília', 'O Leão de Anápolis' ou 'O Leão da Paraíba' (cada um é leão de onde bem pode)..."
Mas o grande fato é que o nosso leãozinho contemporâneo se atrapalhou todo, dizem que se meteu com bicheiro, enfiou-se em falcatruas, fez e aconteceu, perdeu inteiramente a credibilidade, foi abandonado pelos correligionários, teve de deixar a liderança do DEM (cruz credo! Bate na boca!) no Senado, está sendo enquadrado pelos políticos de outros partidos e, ao que parece, como tudo isto não determina o fim da carreira política de ninguém (pelo menos aqui no Brasil), vai continuar se elegendo e aparecendo no noticiário político nacional, mas já não mais como baluarte da moralidade.  Mas política aqui na nossa terra é assim mesmo.  Já nos acostumamos - os outros primeiro, eu, muito a contragosto, depois: a onda acabou me levando, e eu desisti de reclamar.
Por fim, sendo eu xará obscuro  e sem projeção do Demóstenes histórico, o outro xará, famoso mas do jeito como você está vendo na mídia, só posso chegar à triste conclusão de que não fazem mais Demóstenes como antigamente.

2012

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

ALGUNS PEDINTES OU VENDEDORES DE ÔNIBUS

É com certo acanhamento que confesso  que não sei dirigir.  Isto se dá porque na juventude eu ficava com os ouvidos e o saco cheios de ouvir falar em carrões, velocidade, modelo isto e modelo aquilo, rebaixamento, roda de magnésio, farol de milha e vai por aí adiante.  Sempre me recusei a ser um estereótipo, porque logicamente sempre odiei a estereotipia.  Por isto me enchi de um desinteresse incomum por essas coisas ligadas a automóveis.  Hoje entretanto me arrependo de não haver-me interessado mais por carros e não aprendido a conduzi-los, tanto por causa dos cansaços naturais da idade como pela comodidade e praticidade de ter carro próprio.  Mas o trânsito violento, perverso e negligente  das vias brasileiras me desencoraja de tentar habilitar-me a dirigir.
E assim sou obrigado a fazer uso dos frescões (quando há linha para o meu eventual destino),  com pouca frequência os táxis (logicamente pelo preço das corridas) e, quando não há outra alternativa, os ônibus de roleta, daqueles sem ar-condicionado e que humilham os passageiros pelo pouco espaço entre bancos e outros dsesconfortos.  E acontece que é justamente nesses ônibus que se dá um fato interessante.
 Entram alguns vendedores ou pedintes nos tais coletivos que adotam uma postura um tanto quanto coercitiva para obter sucesso no seu empreendimento.
- Eu poderia estar aqui assaltando, mas estou pedindo (ou vendendo). - costumam dizer numa quase ameaça.
Ora! Então, ou você dá uma esmola ao sujeito, ou ele então passa a arrebatar o dinheiro das mãos dos passageiros?!  Não é um abuso?!  Com todo o respeito pela situação de carência por que passam estas pessoas, não posso deixar de ficar indignado, e até ouso imaginar se um deles entrasse numa condução com a testosterona brotando à flor da pele e há dias sem ter uma relação sexual:
- Bom dia, senhores passageiros (ou boa tarde, ou boa noite)!  Desculpe-me atrapalhar o sossego da viagem de vocês, porque eu não queria incomodar... mas o fato é que eu estou há muito tempo sem fazer sexo e  queria saber se alguma das senhoras ou senhoritas poderia fazer o favor de saciar a minha vontade.  Quero que saibam que trago comigo uma "camisinha" e posso transar aqui dentro mesmo.  
"Não importa a idade e se é feia ou bonita, porque eu tô muito necessitado e sei que não posso ficar escolhendo.  Por favor, quem puder me ajudar, se apresente.  Saibam as respeitáveis senhoras que eu poderia estar estuprando, mas estou aqui humildemente pedindo."
Deixando de lado as piadas, é ou não é um abuso?

2012

domingo, 5 de fevereiro de 2012

QUESTIONAR DEUS (OU DEUSES) É PROFANO?

Segundo o filósofo grego Xenófanes (570-475 a.C.),  cuja biografia,  confesso,  acabei de conhecer agora e de forma bem superficial através dos sites da Internet... Segundo este personagem da Filosofia, não são os deuses que criam os homens à sua imagem e semelhança,  mas ocorre exatamente o inverso.  Não poderia eu em nenhuma análise deixar de comungar com as idéias daquele homem, porque ao longo da sua existência a humanidade vem imprimindo sua forma física e suas características morais e psíquicas aos deuses que criam, atibuindo-lhes os sentimentos e valores que adquirem e alimentam ao longo da vida.
Você deduziria que este meu texto é um discurso absolutamente ateu, e eu diria que a rigor é ateu, sim.  Mas ateu unicamente quanto à figura específica de Deus, como também em relação aos inúmeros deuses inventados pelos politeístas, politeístas entre os quais enquadro os católicos... Os católicos, sim!  Sim, porque o que são os santos senão deuses menores em relação ao deus supremo?  Há santo dos olhos, das dívidas, da justiça, etc, enquanto os romanos tinham os deuses-lares, os da orgia, da guerra, com a maioria adotada da Grécia com nomes modificados.
Sem querer me ater à doutrina católica (ou a refutá-la), é mister que eu elucide que a minha dissertação, se  coloca-se contra os chamados deuses, não nega (como infelizmente não afirma nem pode afirmar) a existência de coisas entre o céu e a terra além do sonhado pela Filosofia.   Porque ser ateu não é necessariamente ser materialista.  É possível acreditar numa vida espiritual sem se admitir a existência de um deus onisciente e onipresente, julgador infalível e voltado permanentemente para as questões que afligem os homens.  Esta crença (do deus único e que tudo pode) é extremamente simplista, como é profundamente simplista dizer que não exite nada e ponto final (!), sem uma análise mais detida e acurada.  Por que inventar um todo-poderoso é fruto da preguiça e inércia das pessoas, que preferem criar um pai que lhes dê o que anseiam a arregaçar as mangas e lutar por seus objetivos, pela justiça atrelada ao seu senso do que é justo.  Ou seja, melhor o pai fazer tudo do que o filho mobilizar-se por aquilo de que precisa e a que aspira.  Da mesma maneira as criaturas agem em relação aos políticos: não elegem presidentes ou apoiam reis ou sei lá o quê para resolverem todos os problemas de que precisam elas se livrar? Acham que é só botar um cara lá no centro do poder para ele lhes dar a justiça social e todos os benefícios de que carecem. 
Voltando porém à questão metafísica, poder-se-ia perfeitamente imaginar um mundo espiritual sem lutas entre o bem e o mal, mas com uma coexistência quase sempre pacífica entre ambas as correntes, que seriam, cada qual por seu turno, predominantemente uma coisa ou outra, mas nunca boa ou ruim unicamente.  Se entre os espíritos poderia haver os que nos protegessem ou tentassem nos proteger, ou ainda nos pudessem ou tentassem prejudicar, a questão ficaria difícil de ser respondida, porque  envolveria avaliar o nível de poder dos espíritos.  A vida espiritual poderia ser muito parecida com esta daqui da Terra, com percalços e mazelas, alegrias, dificuldades e tristezas, os espíritos sendo nós próprios(não deuses) em outro lugar, sem que ninguém estivesse a se aperfeiçoar a cada dia, em rumo a uma elevação a um plano astral pleno de benesses e de espíritos de elevada bondade e moral.  Os que professam tal paraíso não estariam demasiadamente envolvidos pelas histórias fictícias com finais felizes  lidas, ouvidas e assistidas desde a mais remota infância?
Agora suponho: e se a vida espiritual for uma decorrência da vida material, ou seja, se não houver espírito pré-existente para animar a matéria e, ao contrário disto, o espírito for somente um resquício do ser que morre?
E, para quase terminar, pergunto: e se não houver nada? Nada, absolutamente nada!  Nada além do que as mãos tocam e os olhos veem, as narinas cheiram, os ouvidos escutam e a língua degusta?  E se não houver mais nada?  Nada, nada e nada mesmo?  Como ficamos?  
Então, para finalizar, gostaria de que me respondessem se em minhas proposições fui profano, ofensivo ao sagrado (sobretudo se minha concepção de sagrado for absolutamente diversa da sua), sórdido, arrogante, irreverente?  Por que levantar tais hipóteses faz a gente angariar a antipatia e o ódio de meio mundo?  Se vocês, como crédulos e tementes a Deus, me execram, é porque são iguaizinhos aos romanos que perseguiam e martirizavam os cristãos, tendo em comum com eles a intolerância ao questionamento da ordem religiosa estabelecida.

2012

domingo, 29 de janeiro de 2012

O IMPÉRIO DO MAL

Se, antes do processo da chamada globalização, o mercado de trabalho já induzia as pessoas a competições ferozes, após o advento do mencionado sistema,  as coisas pioraram muito gravemente.  Se outrora a força de trabalho de uma empresa girava em torno do empresário, com os colegas  se digladiando por galgar postos mais altos, hoje o cenário se tornou bem mais perverso, simplesmente bestial, porque a minimização(ou quase extinção) de barreiras comerciais   fez que as indústrias aumentassem a produção para o atendimento de uma demanda internacional, e, como concorrência exige menor preço e maior qualidade possíveis, os empresários adotaram a política de mão-de-obra barata e o mais qualificada possível.  E, em consequência disto, há nestes dias uma contratação em massa de trabalhadores estrangeiros, como os coreanos, que trabalham por valores módicos, e, ainda dentro da mentalidade de trabalho bom e barato, os capitalistas, não satisfeitos em atuarem pela supressão de inúmeros direitos trabalhistas,  resolveram ainda fazer os seus funcionários tirar leite das pedras, sacrificarem-se à exaustão, produzirem além da própria capacidade, abrindo os patrões verdadeiras competições dentro de suas verdadeiras arenas comerciais, onde, na área de vendas por exemplo,  os vendedores são agrupados em facções que disputam entre si os melhores resultados de vendas a cada mês, e o desfecho disto é em geral o reconhecimento pelo patrão do bom desempenho dos vencedores e algumas retaliações aos perdedores, podendo atá haver perda do emprego.  
Neste contexto, travam-se verdadeiras batalhas dentro das firmas, com todos almejando sobreviver ou projetar-se a qualquer custo,  tentando permanecer o mais longe que possam da degola.  O preço disto é uma deterioração ética e moral  e uma  desumanização sem precedentes das pessoas, porque são estas em seus postos de trabalho permanentes lutadoras por não serem atiradas de um abismo, e uma luta de vida ou morte requer todos os esforços possíveis e aceitáveis ou não pela autopreservação.
O grande beneficiário dentro de todo este cenário bizarro e horripilante é, sem dúvida nenhuma e como sempre, o empresariado, o capital, os grandes capitalistas, os mesmos que com sua ganância levam os países às guerras e geram incalculáveis concentrações de miséria por conta da má distribuição de renda.  Fazem estes agora que mais zelosamente o planeta gire em torno de suas monstruosas pessoas.  Sem contar que alimentam a má natureza do homem e infundem entre os humanos princípios demoníacos de ausência de solidariedade, de falta de compaixão,  colocando a vitória acima da probidade, extirpando das criaturas qualquer traço de bondade.
Há entre os místicos aqueles que consideram que o Céu e o Inferno estão aqui mesmo, e eu penso que eles estão cobertos de razão, mas vejo-me um tanto quanto pessimista, porque, ao que parece, a ambição doentia dos poderosos há muito transformou o mundo unicamente em império do mal.

2011