Barão da Mata - Verdades e Diversidades

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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O TEMPLO DO SANTOS E O DEUS NEIMAR

Que é um direito legítimo de qualquer torcedor ficar feliz com a conquista de um título por seu clube é um fato irretorquível, inquestionável, indiscutível, indubitável, sei lá mais o quê. O que faz que compreendamos perfeitamente o estado de euforia da torcida santista pela Libertadores, que não é afinal de contas nenhum torneiozinho chinfrim, regional ou coisa do gênero. É motivo de orgulho para o torcedor, coisa e tal e tal e coisa... Até aí tudo bem.


O que não cabe, todavia, é a exploração do assunto da forma exaustiva como fazem as revistas, os jornais, as emissoras de tevê e de rádio. A gente fica, independentemente de querer ou não, tomando insuportáveis overdoses de futebol. O Santos virou uma espécie de instituição sagrada, o Neimar, algo como um deus, mas não um deus como uma posição qualquer no panteão, mas o deus maior entre todos os deuses. Ou no mínimo um líder carismático do porte dos antigos estadistas da extinta União Soviética, ou um aiatolá, ou um herói desses que são cultuados como a maravilha primeira do planeta.

Porque onde vou ouço falar no Neimar e na façanha esplendorosa do Santos. Onde vou ouço falar do Neimar; sempre que ligo a tevê vejo o Neimar falando, dando lições de vida ou batendo bola.... Se paro diante de uma banca de jornal, vejo a foto do Neimar em todas as revistas, em todos os pôsteres, etc, etc... Ou seja, em todo santo lugar onde vou, vejo a cara do Neimar. Acho que o Neimar já tá nas lentes dos meus óculos, porque o vejo o tempo todo. Acho que tô maluco, convivendo com alucinações, mas o fato é que vejo a cara do Neimar o tempo todo.

Além do mais, o jogador virou um referência de tudo: de sabedoria, honradez, inteligência... É modelo para tudo, um exemplo a se seguir em qualquer aspecto da vida.

Faço aqui um apelo aos torcedores e profissionais de mída: por favor(!), ergam logo uma igreja ao Neimar, uma igreja com fiéis a jorrar pelo ladrão, criem orações e cânticos de louvor ao jogador, façam altares a ele... mas, por favor(!), poupem a minha pessoa dessa dosagem cavalar de Neimar!

Não acho que a exacerbação da paixão pelo futebol seja saudável, nem tampouco adoto aquele discurso rodrigueano da "pátria de chuteiras", até porque a "pátria", enquanto usa chuteiras, deixa que lhe faltem inúmeras peças da indumentária. Acho o futebol em doses maciças alientante, sim. Podem me chamar de antigo, de idiota e pouco perspicaz, mas o excessivo interesse por esportes aliena, sim, e o Brasil é um exemplo vivo de que isto é verdade, porque usa chuteiras há mais de quinhentos anos e, até hoje, quando experimenta qualquer avanço, tal avanço quase nunca se dá na área social.

Não estou-me colocando contra o futebol. Sou torcedor do Fluminense, mas não vivo arrancando os poucos cabelos que tenho pelo clube. Tenho plena consciência de que qualquer fracasso ou sucesso do time jamais me atinge a qualidade de vida. E é esta a consciência que eu gostaria que os tocedores tivessem. O Brasil é um país fraquíssimo na área cultural (como é fraquíssimo na saúde, educação, no emprego, no salário, etc..), implementador de um sistema cultural espartano, onde o conhecimento dado ao cidadão é sucinto e sem profundidade, justamente para que não tenha uma visão das coisas ampla a ponto de reivindicar os seus direitos e fazê-los valer. Todos sabem que é assim que se constroem as sociedades dóceis e pouco afeitas a reivindicações.

Se o governo tivesse não a vontade, mas ao menos a boa-vontade política de obrigar que os donos de empresas de comunicação dessem aos outros assuntos, sobretudo aos mais importantes, a mesma cobertura que dão aos esportes, quem sabe nem teríamos celebridades ocupando como verdadeiras deidades as capas de nossas revistas, dada a fartura de personagens e assuntos com que nos devêsssemos ocupar.

2011



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