Barão da Mata - Verdades e Diversidades

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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

OS DEMÔNIOS

Alguns religiosos têm uma profunda e extrema preocupação em relação à figura do demônio. Que o demônio deve ser combatido, que o demônio deve ser evitado, que devemos ficar bem longe do demônio: " Sai pra lá, demônio!" Entretanto - e disto eles não se apercebem - independentemente da existência ou não de um demônio rei supremo das trevas, ou ainda de inúmeros minidemônios pelo além afora, é impossível nos distanciarmos dos demônios, porque eles são de carne e osso, com sangue circulando nas veias e coração palpitante. Isto mesmo! Os grandes demônios, os mais perniciosos demônios, estão no dia-a-dia e bem perto de nós.
Eles estão atrás dos volantes dos seus carros (compreendem uma parte significativa dos que dirigem nesta nossa terra sem lei), fazendo direção perigosa e colocando em risco a vida de inúmeros inocentes, entre os quais estão as crianças, os idosos, os animais, os não-idosos (que também têm o direito à vida e à integridade física). Pouco lhes importa se podem causar a morte de alguém e trazer a desgraça a um lar e a uma família, porque não há para estes demônios nenhuma vida que tenha a menor importância. São tão negligentes, que vão às raias da burrice, porque há momentos em que, em manobras absurdamente irresponsáveis, colocam, por conta de ganho de frações de segundo, em risco a vida de si próprios, e tamanha imbecilidade os faz mais demoníacos ainda, porque são, além de perversos, mentalmente involuídos, fazendo-se assim pessoas rasteiras e abomináveis.
Os facínoras, os bandidos de todos os tipos (sejam eles marginais ou oficiais), demônios armados e prontos a produzir morte a qualquer momento, por maldade e habitualidade, são um grupo análogo aos bandidos do trânsito, praticam crimes hediondos e barbáries inefáveis, tendo como instrumento um outro tipo de arma letal: a arma de fogo.
Outros demônios perigosos são alguns entre aqueles que detêm qualquer tipo de poder, porque, com a prerrogativa da punição, da geração de desemprego e de miséria, seja por medida política ou administrativa, parecem ter o prazer nefasto de devastar vidas familiais e comunidades e sociedades inteiras. Alguns provocam guerras e massacres, holocaustos e imensuráveis destruições.
Levando em conta que um automóvel é um instrumento de ferro, que dá a um ser humano um poder físico muito além das suas condições naturais, da mesma forma como uma arma de fogo proporciona o mesmo tipo de aumento de força física, assim como a colocação em boa posição hierárquica dá condições para a prática de atos de peso, o que também representa força, eu repito o que todos dizem : que o poder não corrompe, revela.
Entretanto, não é a conclusão a que eu quero que você chegue. Todo o meu discurso se resume a uma pergunta: dito tudo o que eu disse, me responda: quantos demônios tem o mundo?
2010

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O PUXASSAQUISMO PODE SER UMA PANDEMIA

Quando ingressei na escola, aos sete anos (naquele tempo não havia maternal, jardim, etc...), já cheguei bem ciente de quem mandava e de que devia obedecer. Era a professora, investida de um poder de fogo respeitável e outras coisas do gênero. Sabia como me portar, procurava manter uma conduta que não me criasse problemas, porque já aprendera a obediência em virtude da disciplina que me fora ensinada pelos meus pais.
Se sabia como me conduzir e conhecia o perigo que representaria indispor-me com a autoridade, por outro lado, no entanto, não procurava uma aproximação pessoal com os professores que tive ao longo dos primeiros anos escolares. Era bem-comportado e cumpria as minhas obrigações, quieto no meu canto, sem praticar trangressões significativas e evitando ser focalizado e observado pelo mestre, por discrição e timidez, mas também por querer manter uma certa distância de quem me dava ordens, evitando uma relação pessoal que eu sempre imaginei seria numa condição de desigualdade. Observava porém detidamente aqueles colegas que faziam de tudo para se aproximar dos professores: tinham sempre o que perguntar ou contar na saída das aulas, ofereciam préstimos, davam presentes baratos e caçavam sempre um pretexto de estarem por perto de quem mandava.
Cresci sem digerir bem esse negócio de uma pessoa mandar na outra, e hoje, funcionário público (sempre precisei comer) e em muitas oportunidades obrigado a reportar-me diretamente a autoridades, mantenho a mesmíssima conduta do início dos meus tempos de estudos. Fico por isto indignado com a figura do puxa-saco : gente que não pode ver sequer um terno numa vitrine, que vai logo chamando o traje de doutor e oferecendo um cafezinho ou uma água gelada. "Doutor fulano, o senhor está mais magro, ficou bem assim. " "Doutora, esse modelo ficou lindo no seu corpinho de cento e sessenta quilos." "Olha, gente, o presente de amigo oculto do doutor cicrano tem que ser bem mais caro, tá?" "Gente, tô tão triste! Doutora beltrana vai se aposentar." Este tipo de coisa sempre me indignou profundamente, sobretudo porque aprendi durante a vida inteira - e isto foi uma lição de pai e mãe - que uma autoridade não é maior do que nenhum outro ser humano, uma investidura em alta posição hierárquica não faz ninguém grandioso, a própria grandiosidade é uma coisa muito relativa e de certo modo bastante questionável.
O que acontece, todavia, é que algumas pessoas aprendem a "arte" da bajulação na infância, praticam-na com maestria na idade adulta e procuram sempre se manter perto de poderosos, quer gratuitamente ou para obter sempre benesses dos seus adulados, ou ainda para tentar (e às vezes conseguir) ser um deles. São em geral gente de pouca lealdade, caráter e personalidade frágil, voltada unicamente para os interesses da instituição (privada ou pública) a que servem, sem nenhuma sensibilidade em relação às questões humanas.
Fico tentando entender essa gente, e me pergunto sempre: será que sou idiota de berço? Sou um debilóide mal ajustado às coisas elevadas da vida? Ou seria essa gente absolutamente vil, abjeta, prostituída e desprezível? Na falta de respostas, a conduta de adulação, essa coisa de verem os poderosos como verdadeiros deuses vivos, sempre tratei isto tudo com muita ironia, muita irreverência, muito escárnio e muita raiva, e minha postura já me causou inúmeros problemas, obrigando-me em algum episódio, em atitude de completa incoerência e contradição (confesso para ser verdadeiro), a buscar no poder proteção contra as maldades dele próprio - é uma situação muito constrangedora e que faz você se sentir um imundo verme. Mas que podia fazer? Não foi pra me projetar, foi pra sobreviver e não ser vítima de sacrifício por conta de perseguição e injustiça.
Enquanto me senti sujo por haver pedido favor ao poder, há pessoas que o fazem com a maior cara deslavada, com a paz de espírito de quem desfia rosários em reza por toda a humanidade. Sinto desprezo e pouca simpatia por essas criaturas, e é claro que elas são freqüente objeto de minhas maldosas piadas. Trato até as pessoas que têm poder de mando com reverência e cordialidade, mas sem embutir nisto nada que as faça sentir maiores do que as outras. Mas os puxa-sacos são demais! Na verdade estou me lixando para se alguém é isso, aquilo e aquilo outro, não faço mesmo concessões a ninguém! Se o cara for então alguém sem nenhuma relação com o meu trabalho, ignoro-o então como se não existisse, além de sentir menosprezo por quem porventura se esmere em agradá-lo.
Mas fico tentando entender os aduladores de carteirinha. Às vezes tenho até boa-vontade: em várias oportunidades, diante de belas mulheres de alto cargo público, tive vontade de examiná-las para saber se eram feitas de alguma matéria diferente da nossa. Só não satisfiz a curiosidade porque certamente seria punido por correr o risco de não ser compreendido em meu alto intento de pesquisa científico-filosófica. Quanto aos bajuladores, preocupo-me sempre com eles: acho que poderia minimizar o problema de adulação inserindo-os em práticas esportivas: por exemplo, tiro ao puxa-saco, malhação ao puxa-saco, lançamento de puxa-saco à distância.
Conheço sujeitos que já andam com um tapete vermelho embaixo do braço, prontos para estendê-lo em caso de darem de cara com algum detentor de poder. Conheci um outro que me fez levantar a tese de que o puxassaquismo seja hereditário: ele andava sempre com uma escova de roupa na mão, para remover eventuais caspas de ternos de eventuais manda-chuvas, e era filho de um voluntário ajeitador de insígnias, que era filho de um voluntário ajeitador de medalhas militares, que era filho de um voluntário ajeitador de togas, que era filho de um voluntário lustrador de cetros, cujo pai emprestava a mulher aos nobres. Uma vez um bajulador muito católico e muito devotado me disse que adular seria uma prática extremamente válida: "... se até no Reino dos Céus alguns querubins agradam ao Senhor de todas as maneiras, esperançosos de um dia serem promovidos a serafins. E veja bem: se Adão e Eva tivessem um pouquinho de puxassaquismo, não teriam desobedecido e comido do fruto proibido para serem expulsos do Paraíso."
O grande problema do puxassaquismo é que ele às vezes me parece um mal pandêmico, e o pior é que os puxa-sacos de grande envergadura acham que deveriam servir, em matéria de relações humanas, de referência às outas pessoas. Durma-se com um barulhos desses!
2010