Barão da Mata - Verdades e Diversidades

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sábado, 1 de maio de 2010

PERMITA-ME SER PRETENSIOSO E DAR UNS PITACOS SOBRE ECONOMIA

Logo após escrever "Sonho é Presságio?", onde tiro sarro com a cara do Serra, porque não tem mesmo ele outro discurso que o de que " é preciso cortar gastos, que gastos é preciso cortar, cortar gastos é preciso, viver não é preciso". .. Essa porcaria desse discursinho fácil e barato tá no manual de qualquer politiquinho desses que você vê por aí, atazanando tua vida (deixa eu misturar as pessoas do verbo, deixa?) e teu juízo, dizendo nas entrelinhas que não se pode investir em educação, saúde, infraestrutura, segurança, habitação, etc, etc... Você vai ver só a campanha! Ele vai falar o tempo todo ( e é só o que sabe) em conter gastos públicos, discurso do conservadorismo perverso que foi encampado pelo Collor e posto em prática nos recessivos e miseráveis anos FH, onde Serra era figura proeminente. Mas não é exatamente no Serra que eu quero atirar. E sim numa conjuntura.
Bem, vamos por partes. O fato é que, logo após eu haver escrito o texto, minha amiga Virgínia mandou-me via orkut a seguinte mensagem: "Querido amigo Demóstenes (...)Agora me diga como são o seus sonhos com a Dilma. Nós estamos num mato sem cachorro. Se fica, o bicho come, se correr, o bicho pega. Ohooo loco!"
Acho que ela está coberta de razão. Não há pra onde correr. Apesar de eu ser honesto o bastante ( e não adiantaria tentar deixar de ser, visto que tudo está tão claro) para dizer que vou votar em qualquer coisa que estiver em condições de competir com o Serra, mesmo que seja o tinhoso; mesmo assim, agora o que me cabe é voltar ao "x" da questão: a conjuntura de que falo vai levar-me a um discurso muito pretensioso , já que não sou economista, não entendo de economia, não circulo nas suas esferas e coisa e tal, mas o fato é que, quando um político se candidata, tem já um discursinho pronto, tirado de um livrinho manual de Dom João Charuto, de que é preciso conter gastos, investir no social, acabar com as desigualdades e o ponto a que agora quero me apegar: desonerar a produção. Isto mesmo: desonerar a produção. Já ouvi seiscentas e cinqüenta milhões de debates vazios na mesma direção. Coisa cansativa! Dizem tudo, menos a verdade.
Se desonerar tem por objetivo gerar mais empregos e colocar a indústria nacional em condições de competir no mercado internacional, o preço do produto precisa ser barateado, e é aí exatamente onde está o grande nó da história. Todo mundo sabe os altos encargos que um patrão paga ao governo para manter um empregado. Sabe também que estes altos encargos são um fator importante de inibição da geração de empregos. Ou seja, um governo realmente bem-intencionado empreenderia uma verdadeira renúncia fiscal em prol do emprego. Como o governo não quer perder arrecadação, adota uma fórmula simples, mágica e cruel para desonerar a produção: desprotege a classe trabalhadora em não adotar nenhuma política salarial que proteja os salários, permitindo sórdida e covardemente a livre negociação onde a procura por trabalho é sobejamente maior do que a oferta, o que faz as remunerações salariais ainda mais parcas, e dá à indústria as condições de competir lá fora à custa da miséria dos empregados. Em outras palavras: quando se fala em desonerar a produção, parece que se fala em prol dos trabalhadores, mas não é isto: eles falam em prol dos industriais, dos empresários, dos patrões.
Convenhamos que o desemprego é algo muito grave, mas também que uma atividade mal remunerada é um paliativo de pouca eficácia. Portanto, quem quer desonerar a produção muda a legislação tributária e promove renúncia fiscal. Aí me perguntariam:"Se houver renúncia fiscal, como o governo irá compensá-la?" Eu respondo: Ué? Sobretaxa as grandes fortunas! Sobretaxa, supertaxa, megataxa, taxa mesmo as grandes fortunas! Lembro-me perfeitamente de que, quando era ministro da fazenda do Sarney, o Bresser ficou desempregado porque tentou botar no Congresso um projeto de taxação das grandes fortunas, e desde lá o país não viu macho que se dispusesse a fazer um discurso neste sentido. Taxar os ricos distribuiria renda, permitiria o investimento em produção e salários (porque bom salário não é palavrão, não: os políticos e empresários ficam vendendo idéia em contrário para gerar conformismo e manter o "status quo").
Falar em taxar grandes fortunas é subir no cadafalso, é entregar-se à forca, e o nosso "querido" Bresser bem o aprendeu, porque mais tarde se integrou ao governo FH e, na falta de projetos dele próprio e do governo, deu-se a perseguir o funcionalismo público , eleito bode expiatório em todos os episódios em que as coisas vão mal ou simplesmente não se tem projeto político e social de qualquer natureza - e a perseguição de que falo dá uma puta popularidade!
Não há quem tenha a macheza, a honestidade de dizer que é preciso aumentar a carga tributária da abastança. Não seria a solução de todos os problemas, mas permitiria ao governo abrir mão de arrecadação sobre o emprego sem aviltar e comprimir os salários. Porém, todos têm medo de levantar tal bandeira, porque sabem que seria suicídio.
Mas a questão não pára aí: quem quer realmente atuar na área social, precisa necessária, obrigatória, indispensável, imprescindivelmente mexer com as grandes fortunas, porque a questão é clara: sem distribuição de renda não há avanço social. E isto independe de o cara ser de esquerda ou sei lá o que. Distribuir renda é essencial, nada melhora sem isto: a concentração de riquezas absurdas em mãos de poucos é muito gritante, e isto precisa ser disciplinado. Não sou mais de esquerda, não tenho credo político, não milito em coisa nenhuma, mas a distribuição de renda, pelo maior número de meios por onde seja efetivada, é sim a solução de todos os problemas, e é por isto que eu repito: se não há político verdadeiramente disposto a emprender uma verdadeira distribuição de renda, eleição vai continuar sendo um joguinho entre os poderosos e representantes do poder econômico, que ficam se revezando nos postos de poder público. Daí eu repetir: não há pra onde correr. Não adianta falar em nomes, porque a diferença entre uns e outros candidatos estará sempre e unicamente no nome, pois, ganhe quem ganhar esta ou qualquer eleição, este vai rezar pela cartilha imposta pelos economicamente poderosos.
Falei muita besteira?
2010