Barão da Mata - Verdades e Diversidades

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sábado, 24 de abril de 2010

SONHO É PRESSÁGIO?

Seria o sonho realmente um presságio? Sei lá...Fico hoje reticente em relação à questão.... Isto porque tenho tido um pesadelo freqüente e insistente nas últimas semanas. Sonho que a minha trisavó por parte de mãe, que morreu uns sessenta anos antes de eu nascer, tem uma testa imensa além de uma lisa e vasta careca, e me pega pelos braços enquanto canta: "Serra-serra-serrador, quantas verbas já serrou!" O pior é que, em vez de me projetar para trás e para a frente, só me empurra para trás, e continua: "Da saúde, das escolas, segurança. Serra-serra-serrador, quantas verbas já serrou! Vai serrar ainda mais, vai virar o teu terror."
Fico nos sonhos a olhar para ela apavorado, e a velha, ao final da canção tem um semblante carrancudo, uma postura antipática e arrogante, e me diz com uma voz grave e um ar de dona da verdade: "Serra que se escreve com fh. "
Acordo sem entender absolutamente nada.
Você conseguiria interpretar este meu sonho esquisito?
2010

ELEIÇÕES E AMIZADE ROMPIDA

Estou profundamente indignado com um meu amigo - aliás, amigo não, ex-amigo! - que veio me dizer uma verdadeira infâmia. Veja que o sujeitinho teve o descaramento de dizer que, se povo soubesse votar, não teriam os judeus preferido Barrabás a Jesus quando foram instados pelo Sinédrio a escolher quem deveria ser poupado da crucificação. Tentei explicar-lhe que, naquela ocasião, se o povo assim agiu, foi, pelo que já me elucidaram, porque Barrabás era líder dos zelotas, grupo revoltoso que pretendia libertar a Judéia do jugo romano. Mas não adiantou: o homenzinho foi intransigente. Atirou-me na cara umas duzentas mancadas eleitorais do povo em eleições majoritárias nos últimos vinte anos, além de listas com mais de quatrocentos nomes de cada uma das dez últimas legislaturas do Congresso que não poderiam jamais ter sido sufragados. Sujeitinho inconveniente, obstinadamente disposto a querer negar a irrefutável sabedoria do povo. Agora, me diga uma coisa: não fiz bem em deixar de ser amigo dele?
2010

OS FRUTOS DO DESCONHECIMENTO

Ah! Essa eu não podia deixar passar! Eu tava aqui, ao computador, tentando criar alguma coisa ou pensar num tema pra abordar, quando ironicamente um mastodonte, desses que dão dez berros e uma porrada nos ombros dos outros a cada dez palavras que fala, veio ironicamente em meu socorro, quando lá da rua soltou num grito de "porra, esse time é demais" mais parecido com o grunhido de um pobre porco na hora do abate (pobre porque amo e respeito todos os animais, e às vezes divago sobre como seria bom se eles não fossem abatidos). Este tipo de espetáculo é muito corriqueiro no bairro onde moro , assim como em muitos outros bairros por este Rio a fora.
Se fossem só os berros, até que ainda iria. Mas o grande problema é que esses caras ainda soltam fogos, ateiam fogo no asfalto e cometem outras barbaridades: são verdadeiros terroristas sem causa. Odeio gente sem educação e torcedores extremados: eles são hostis, insolentes e perigosos. Já disse mais de uma vez que são os sectários de maior periculosidade, sobretudo se você levar em conta que no Brasil, ao menos com base nas notícias que nos chegam, não se mata nos últimos anos em nome da política ou da religião, duas das três searas onde se abrigam os mais inflamados radicais: a terceira é justamente o futebol (e de maior número de exacerbados).
Mas a questão é que não são exatamente eles o alvo deste meu comentário. O meu tema são aqueles que se valem deste tipo de situação. Nos anos setenta dizia-se muito que o futebol era um bom intrumento de desvio de atenção dos problemas nacionais para uma direção indevida e equivocada: ou seja, o cara só pensava em futebol e nem sequer tinha idéia dos problemas que verdadeiramente afetavam a sua vida e o seu dia-a-dia. Nos anos oitenta começou-se a negar que o interesse demasiado por um ou mais esportes fosse alientante. Nos anos noventa ficou "provado" que uma coisa não afetava a outra. Na minha opinião pessoal, foi um aforismo que alguém, meio bêbado e meio querendo contestar por contestar, jogou no ar e pegou, colou, cristalizou-se perfeitamente.
Podem me chamar de retrógrado, de arcaico, de reacionário, de cego, mas eu de-fi-ni-ti-va-men-te não a-cre-di-to. O interesse desmedido por futebol aliena, sim! Esses torcedores de que falei, e que correspondem a um percentual significativo, não querem saber de nada, nada mesmo! Só de seus clubes, e fim! Comentam futebol de domingo a domingo, almoçam, jantam e respiram futebol. Torcer por um time é saudável, eu próprio, como tantas outras pessoas, torço por um time. Mas não vivo a me desesperar ou a soltar fogos por ele, não gosto quando perde, mas não fico a me deprimir e a querer explodir o mundo por força da revolta e do desgosto. O caso deles (os fanáticos) é patológico, é uma coisa inconcebível. E o mais grave de tudo é que eles votam, e o fazem, em geral, sem nenhum conhecimento de causa, porque é impossível que alguém dedicado ao futebol vinte e quatro horas por dia possa estar inteirado sobre outro assunto. E aí quem gosta, se regala, deita e rola são aqueles caras que usam colarinho duro, gravata italiana e que decidem se a gente neste ou naquele dia vai ter alguma coisa pra comer ou se virar roendo pedra. Aqueles, sabe? Pois é!
É mentira minha? É? Se você acha, me responda uma coisa: quantos aumentos de preços e medidas antipáticas são tomadas pelos governos em períodos de copa do mundo ou de final de campeonato? Se você não se lembra, a indústria químico-famacêutica produz uma série de remédios pra memória. Procure seu médico.
Estaríamos bem se só os torcedores extemosos tivessem a atenção desviada. Mas a história é muito mais séria. Tem gente que compra um jornal e só lê a página criminal. O crime é realmente, na atualidade, algo muito incidente e um problema da maior relevância, mas uma fonte noticiosa digna do nome não vive exclusivamente da criminalidade. Ou seja, apesar do seu vício de manipulação de fatos, muitas das instituições de imprensa de maior peso ainda dão uma boa gama de informações sobre vários assuntos . O grande problema é que as entidades menos sérias (ou os setores menos sérios das entidades mais sérias) aplicam nas veias do público verdadeiras overdoses de informações irrelevantes e desnecessárias. É o que explica o grande sucesso dos chamados reality shows e outros programecos do mesmo quilate.
Se houvesse uma postura séria por parte dos legisladores e governantes, este tipo de coisa teria uma certa limitação, um certo controle e policiamento; mas ninguém está interessado em que o povo esteja bem-informado das coisas de cunho político e social. Logo eles, os grandes beneficiários deste contexo, porque disciplinariam tais abusos? Quanto menos se saiba, melhor para eles. Até porque, se ao povo fosse dado saber a verdadeira face da realidade, muitos governantes que se transformaram em verdadeiros vultos históricos não teriam, pelos seus desmandos, completado o segundo ano de seus mandatos.
Uma pena. Todo esse processo é, queiramos ou não reconhecer, um grande fator atravancador de progresso e desenvolvimento. Mas o que se há de fazer? O Brasil vai lendo fofoca sobre artistas, assistindo a programas baratos de auditório e tocando a vida por aí afora, crente crente que é feliz.

sábado, 17 de abril de 2010

AS AVENTURAS DE JONAS, O SALAFRÁRIO -- EPISÓDIO DE HOJE: "O SEXO DOS ANJOS



Quando o deputado Sandro Lessa, que defendera o debate sobre o sexo dos anjos, deixou o plenário, foi logo cercado por Jonas Pereira Jojoba, que se fazia acompanhar de Armando Lontra, conhecidíssimo lobista.
- Pô, Lessa, gostei da tua ideia!
- Mesmo? Obrigado. - e tentou sair andando, mas foi parado pelos dois.
- Ô Lessa, peraí, cara! Tu não percebeu a magnitude da coisa?
Lessa parou a pensar por momentos, respondeu:
- Ué? Você não sabia que essa discussão é só pra desviar pra ela própria a atenção da opinião pública, enquanto a gente discute o fim de um monte de direitos dos trabalhadores...? Foi isso que nos encomendaram: fazer um alarde sem tamanho em torno de um assunto sem importância e votar na surdina temas que vão prejudicar as classes trabalhadoras.
- Sei disso - ratificou Jonas - Sei e tô dentro da jogada, meu filho. Não é à toa que a mídia vai dar amplo apoio e divulgação à questão do sexo dos anjos, porque é preciso desviar os olhares da classe trabalhadora.
- E não podia deixar de dar - continuou Sandro Lessa - se eles, donos de jornais e de tevês empregam um monte de gente e vão também se beneficiar...
- Sem contar os incentivos fiscais - entrou o lobista Armando - verbas para custeio de projetos próprios, porque o governo e os políticos desta Casa, na maioria patrões, sabem ser gratos a quem os apoia, principalmente sabendo que vão precisar sempre desses mesmos que hoje lhes dão sustentação... Mas não é essa a questão.
- É! Apoiou Jonas - Não é essa a questão.
- Então - indagou Lessa, já meio impaciente - qual é questão?
Jonas gesticulou:
- Pô, Lessa, tu não sacou?!
- Pô, Excelência, tu não sacou? - apoiou Armando.
- Não. - respondeu Lessa.
- É o seguinte - começou a explicar Jonas: - Esse negócio de sexo dos anjos, com ampla cobertura da mídia e coisa e tal, vai permitir que a gente evite alguns temas realmente polêmicos, como também destrua direitos sociais sem ninguém perceber, além de ter um ponto muito mais interessante..
- Mais interessante?
- É, Lessa! Di-nhei-ro pú-bli-co pa-ra a pes-qui-sa do se-xo dos an-jos, en-ten-deu?!!!
- Ah! - atinou Sandro Lessa.
- Pô, Excelência ! - manifestou-se o lobista.
Sandro, animado, quis logo os detalhes:
- E como a gente vai fazer?
- É aí que eu entro - disse o lobista - Eu conheço um mago que "sexangeia"
como ninguém...
- "Sexangeia "?
- Pô, Excê! Um cara que vive de desvendar o sexo dos anjos... Vai cobrar uma fortuna!
- Mas peraí - replicou Sandro - Se ele vive de desvendar, então já descobriu, não é preciso pesquisa...
- Pô, doutor, não é bem assim...
- Ué? Mas se ele vive de desvendar, como já não sabe?
- Pô, Excê! Ele vive de desvendar, mas não quer dizer que ele saiba...
- Ué? Como é isso, então? Se vive de desvendar e nunca desvendou, então passa fome, já que nunca desvendou?
- Não disse que nunca desvendou, Excê.
- Ele então já sabe qual é o sexo.
- Também não disse isso, doutor.
- Ora, seu Lontra, então me explica essa história de uma vez por todas!
- Pois é, doutor, não tem explicação...
- Ora, seu Lontra, mas como assim?!
- Não sei assim como, Excelência, mas é assim que vai ser.
- Ué?!
- Pô, Lessa, acorda! - interveio Jonas - É assim que vai ser pro povo! É pra não entender nada mesmo! As pessoas não vão entender nada, mas vão se interessar pra caramba!
- Aaaah!
- Entendeu, doutor?
- Agora, sim!
- Pois é, doutor. Quanto menos nosso mago definir as coisas, mais dinheiro será necessário pra pesquisa. E nada se descobre, e haja pedido de verba pública pra continuar a pesquisa!
- E quem vai aprovar?
- Nós, os parlamentares, Lessa!
- E os "home" lá vão estar de acordo?
- Bicho! - contou o lobista - Já falei com eles: tem um bocado de gente entre eles que já tá escolhendo os iates pras suas amantes.
- Ah, bom!
- Vamos lá, Lessa! - Jonas bateu no ombro do outro parlamentar. - Vamos arregaçar as mangas e pôr mãos à obra. É hora de faturar, meu nego! Faturar, meu filho! Faturaaaar!
Os três trocaram abraços, sorrisos e elogios, e Armando Lontra ainda disse em tom solene e emocionado:
- Não podemos perder a oportunidade de ser inseridos neste momento histórico. São homens como nós que constroem os destinos da nação.


2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A CRIMINALIDADE E A DISCURSEIRA

A gente sabe perfeitamente o quanto é complexa essa questão do crime organizado, do tráfico de drogas no Rio, em São Paulo e em outros Estados do Brasil. Defender que a educação é a melhor medida é extremamente válido e positivo, além de muito, muito acertado. Mas tal remédio é preventivo, enquanto, porém, é preciso alguma ação efetiva contra a criminalidade que já está presente, formada, alojada, instalada, alicerçada, cristalizada, ou você acha que algum chefão do tráfico esteja disposto a freqüentar a escola para começar uma vida de homem de bem?
No plano em que discuto, fala-se ostensivamente em combate ao crime, tererê e pão duro, mas ostensivo, na verdade, é o discurso, a falácia. Entra governador e sai governador, o crime fica a cada dia mais robusto, mais vigoroso, mais pétreo. Vira e mexe, o governo federal manda umas tropinhas pra cá, a bandidagem, como boa anfitriã que é, aquieta-se um tempinho para deixar as tais tropas à vontade, e as forças armadas, agradecidas e lisonjeadas, logo, logo lá se vão de volta aos seus quartéis, cercadas de paz e naquela preguicinha boa de quem nunca precisa guerrear.
Vez por outra aventa-se a possibilidade de as drogas serem legalizadas e, com o fim do tráfico, as quadrilhas se desmontarem. Interessante opção, se as forças policiais estivessem equipadas e preparadas para o combate a esses indivíduos, que, "desempregados", dedicar-se-iam com maior afinco e freqüência a outras modalidades de crimes: assaltos à mão armada, seqüestros, comércio da morte e outras do gênero. Aí, para caírem os índices de criminalidade, seria preciso legalizar o tráfico de crianças, de órgãos, de animais, de mulheres, o comércio da morte, o assalto, o roubo, etc, etc... e aí, sim! Todos estaríamos felizes, porque, legalizadas as citadas "atividades", nada mais seria crime, e bandidos - então convertidos por força da nova legislação a cidadãos de bem - e autoridades seriam felizes para sempre.
Não é bem assim que a banda toca (ou ao menos não deveria tocar). A legalização das drogas não seria nociva se as autoridades estivessem preparadas e dispostas a dar efetivo e maciço combate ao crime, o que requereria investimentos, gastos, empenho, vontade política, seriedade, não discursinhos de palanque ou falácias em programas e jornais de tevê. Uma sociedade bem protegida não tem motivos para se preocupar com a legalidade ou ilegalidade das drogas. Não uso drogas e não me detive ainda a formar opinião sobre se a droga deva ser legal ou ilegal: penso que a discussão a tal respeito é algo mais de caráter ideológico do que político, sobretudo porque vejo o desejo de legalização como uma confissão de impotência ou indolência do poder público.
Acho, sim, que deveria haver harmonia e coesão entre as forças políticas no sentido de, através de educação e repressão, ser dado um efetivo e verdadeiro combate ao crime, seja ele crime organizado ou abagunçado. Não dá para combater o crime com estilingues e armas enferrujadas, com homens despreparados e pouco versados. Assim, eu defenderia o maior investimento, além de na educação, nas polícias, tanto as civis como militares e federais, como também - e por que não? E repito: por que não? - a participação das forças armadas. As forças armadas, sim. Por que não? - volto a repetir a pergunta.
As forças armadas estão fora da nossa realidade. Em tempo de paz, dão-se ao luxo de não prestar qualquer serviço à sociedade. Não é um desperdício e tanto de dinheiro público e armamento? Logo enquanto o crime organizado samba, dança, canta, faz firula e rebola diante da sociedade? Não venham os políticos de Brasília com a argumentação de que os militares são de elite e sei lá que mais, que não ficaria bem eles subindo favelas e trocando tiros com bandidos, nem que os mesmos estão despreparados para tanto e outras coisas do gênero, porque nada disso é crível. Se não estão preparados, pois que sejam. Sobretudo porque as forças armadas sempre foram de uma competência ímpar para combater movimentos estudantis, trabalhadores e cidadãos em manifestações, além de haverem-se especializado (e sem nenhuma demora ou rodeio) em dar combate às guerrilhas que lutaram contra o regime autoritário instaurado no Brasil a partir de 1964 e que só saiu de cena vinte anos depois. Encontraram e executaram Carlos Lamarca no fundo do sertão da Bahia, onde nem Deus o encontraria; aniquilaram os guerrilheiros do Araguaia num histórico e violentíssimo massacre, desbarataram a Vanguada Popular Revolucionária e ganharam inúmeras outras medalhas de bravura por atos semelhantes. Dito isto, responda-me: o que as forças armadas de ontem têm que as de hoje não podem ter?
Enfim, se o Brasil não está enfrentando ou em vias de enfrentar alguma guerra, ora, amigo! Papel de forças armadas é combater a criminalidade!
2010

domingo, 4 de abril de 2010

FABULAZINHA DE DEUS ABANDONADO

Era um dia como outro qualquer, até que subitamente ouviram-se trombetas que encheram o céu e a terra, e a voz do arcanjo Gabriel anunciou:
-- Filhos do Senhor, parai todos e ouvi atentamente o que o nosso Deus tem a vos falar!
O mundo inteiro parou e silenciou. A voz do Senhor, bonita, grave, sonora, cheia de eco de uma acústica celestial, principiou:
-- Filhos... tenho uma péssima notícia para vos dar.
O mundo, ainda quedado, agora se via aflito e lotado de curiosidade:
-- Tendes visto que tudo tem piorado? As catástrofes naturais têm sido mais frequentes. A ambição, mais do que nunca, tem gerado e alimentado  guerras. Os homens vêm agindo com o desamor e crueldade da era pré-cristã, como se tudo o que o Messias pregou não fosse para ser levado a sério. O crime a cada dia ganha mais corpo e força, pouco hoje se escondendo, tamanho o seu poder. Os maus políticos, já existentes na Antiguidade, permanecem invulneráveis, impunes, crescentes em número, existindo hoje numa maioria superior à da Antiga Roma.
"Não percebeis, filhos, o que está acontecendo?"
As pessoas permaneciam caladas, Deus prosseguiu :
--A Natureza vem sendo esmagada pelos homens, as espécies animais estão em processo de extinção mais acelerado. Tudo o que é ruim está crescendo em número e tamanho e tomando conta do mundo. O "Big Brother Brasil" vingou e é sempre campeão de audiência, os seus congêneres também arrebanham um tremendo público! Os programas de auditório têm a cada dia mais ibope. Todos os aparelhos de som tocam "funk" e pagode. Não percebeis o que ocorre? Não percebeis?
Os habitantes da Terra permaneciam silentes, todos ainda aparvalhados de perplexidade.
-- Pois eu vos digo, meus filhos. Preparai-vos para ouvir.
Seguiu o silêncio, Deus vociferou:
-- Perdi a guerra contra Satanás.
Um "oh!" geral, mundial e desolado. O Senhor continuou:
-- Mais do que isto, meus filhos... - uma grande pausa para rufarem os tambores, o Pai Eterno tornou: - Perdi o poder.
Nunca se viu um "oh" tão desesperado, desolado, desesperado, tão geral e tão sonoro. Desmaios, gritos, ataques histéricos, internações, uma tempestade moral no mundo.
-- Se quiserdes permanecer comigo - seguiu Deus - estarei sempre convosco. Mas ficai sabendo que agora nada mais posso, já que, infelizmente, só o Diabo tem poder.
Despediu-se (até porque Deus é objetivo, não fica falando à toa):
-- Até o momento em que algum de vós me quereis falar.  Sede felizes.
Alguns dias após o imensurável, mundial e descomunal choque, as pessoas começaram a comentar:
-- E agora?  O que será de nós?
-- Pois é...
-- Veja só! Deus sem poder, onde se viu?
-- Uma desgraça! Agora o poder está nas mãos do outro.
-- Outro?
-- É, o outro!
-- Outro?
-- É. Aquele cujo nome não se deve falar.
-- Ah, é...!!
-- O outro...
-- O outro...
-- Cujo nome não se pode falar...
--... não se pode falar...
-- Ora! Mas por que não??
-- É! Por que não?
-- Ora essa!
-- É! Ora essa!
-- Pensando bem, o outro sempre foi bem mais simpático... Deus sempre fechadão, lá na dele, muito sério, achando tudo imoral e errado...
-- É. O outro sempre foi alegre, galhofeiro, gozador..
-- Também sempre achei!
-- Nunca proibiu a gente de nada. A gente sempre pôde sambar, se despir, cornear, beber, matar, farrear, colocar o pé na frente do garçom...
-- Pois é! Muito mais liberal, muito mais sem frescura. Sempre deu à gente inteira liberdade.
-- Apoiado! Acho que agora a gente vai ser muito mais feliz com o outro. E eu falo o nome dele, sim! Satanás, pronto!
-- Também falo: Satanás!
-- Isso! Louvado seja Satnás!
-- Onde se viu? A gente vivia numa repressão danada, agora vai ter liberdade e felicidade.
-- Um Deus sem poder... De que adianta? Ora essa!
-- É... Um Deus  sem poder... Onde se viu?
E assim as pessoas, adesistas, interesseiras, ingratas, prostitutas que são, passaram a devotar-se e  a preces ao diabo.
Moral: quem não tem poder ou vantagem a oferecer, vive sem amigos e ignorado por  todos.